Reflexão & Ação: Isso é Educação
Desculpem-me, mas preciso dizer!Preciso dizer que NÃO vamos conseguir! Que NÃO vamos vencer!E... não vamos vencer porque NÃO estamos preparados!Não estamos preparados, nem mesmo para ACREDITAR... que podemos vencer.E podemos vencer? Certamente. Mas eu não acredito.Primeiro precisaríamos acreditar. E você acredita? Eu não. Desculpe! Se eu disser que... "Não estamos preparados para sair da zona de conforto", isso é tão clichê, que se alguém lendo até aqui, estiver achando que isto é um discurso meramente motivacional ou autoajuda, então "isso será a gota d'água" e quem, até então, suspeitava, já terá isso por certo e, com certeza, abandonará a leitura antes do seu final.Eu posso até te dizer, jurar, garantir que não é. Mas não só preciso que você acredite, como preciso, eu mesmo, acreditar. Para que eu possa continuar. Continuar jorrando palavras. Afinal, palavras não são o que falta. Pelo contrário. São tantas que preciso controlar-lhes o fluxo. São tantas que precisei levantar-me do calor e aconchego de minha cama, da intimidade de minha "concha". Minha companheira, que dormiu antes, que me desculpe também. (E assim espero) Mas precisei. Precisei escrever. Para liberar minha mente inquieta das tantas palavras que lhe povoavam, que lhe brotavam, que fervilhavam em meus pensamentos.Esse é um dos motivos por que estou escrevendo. Contudo, sei que a toda palavra escrita, o que a fecunda é a leitura de alguém outro, que não o próprio que escreve. Toda palavra escrita e não lida, ainda não nasceu. É... apenas um aborto de palavra. Menos. Um feto de palavra, não formado. Menos! Um óvulo de palavra não fecundado e dispensado inutilmente, a seu tempo, no ciclo da vida ou um espermatozoide perdido, dentre tantos, que não encontraram seu "alguém outro" para que passasse a ter alguma importância. Mas não. Não acredito.Pelo menos até o momento, não acredito, simplesmente, que essas palavras chegarão a ser fecundadas pela leitura de "alguém outro". Talvez. Mas por que não acredito? Não é por que eu duvide de que você as queira ler. É porque, muito provavelmente, eu não tenha coragem de as apresentar. Talvez não tenha a audácia de me expor. Por erros de ortografia? Não. Por vergonha? Talvez, mas creio que seja, ainda, mais que isso. Que seja medo, mesmo. Pois não estamos preparados.Não estamos preparados para acreditar ou, para aceitar... que alguém possa acreditar. Que alguém possa levantar uma bandeira de esperança em meio ao descrédito, sem que tenha, por trás disso, algum interesse escuso de que a sua bandeira seja apenas um motivo para se promover, para ser visto e não, verdadeiramente, o que a sua bandeira traz como lema e expressa defender.Não estamos preparados para acreditar que exista um ponto de intersecção entre o interesse especulativo e a crença sincera.Não estamos preparados para acreditar que exista um ponto de inflexão entre a motivação e o otimismo. Entre a utopia e a distopia. Entre o "romantismo cego" e o pessimismo.E temos infinitos motivos para não acreditar. Entre eles, este:Preparamo-nos tanto para não sermos engolidos ou atropelados pela curva íngreme do "romantismo cego" que começo a pensar que, acreditando estar tão atentos à realidade QUE, claro, NÃO É BOA, não percebemos quando começamos a enxergar até o que, nem sempre, está lá onde estamos apontando.A ponto de, se alguém disser que NUNCA, JAMAIS sairemos desse poço, somos capazes de o aplaudir de pé. E se alguém LEVANTAR uma bandeira de esperança, somos capazes de o apedrejar.Somos incapazes de não apontar ali um nítido interesse escuso de autopromoção, ou no mínimo de ingenuidade.Então, por que tenho medo? Tem dúvida?Tornamo-nos incapazes de identificar a diferença entre duas frases, que seguem:"Na pura intenção de acreditar que é possível, alguém toma uma atitude positiva e isso pode, porventura, lhe render um reconhecimento em algum momento". (rum!... Mas eu acredito?)"Na (im)pura intenção de que isto possa lhe render, porventura, um reconhecimento em algum momento, alguém toma uma atitude que parece ser positiva". (haha!... Mas não me engana.)Pior. Tornamo-nos incapazes de acreditar que essas duas frases possam coexistir. Antes afirmamos, "garanto que apenas esta última é possível".No fim o que acontece é que "alguém toma atitude positiva" e "esse alguém acaba tendo isso reconhecido em algum momento" e ficamos apenas apontando distantes e distantes tentando vislumbrar / decifrar qual era o real motivo primeiro.Este é um segundo motivo por que escrevo. Por entender que, como parte desse todo, tenho, primeiramente, a obrigação de me recusar a tomar uma atitude positiva, sem antes tentar fazer com que todos tomemos juntos essa atitude e, se for para sermos reconhecidos, que sejamos todos.Mas... primeiro precisamos acreditar. E temos muitos motivos para NÃO. E entre eles, mais este:De que adiantaria eu acreditar se não houver uma contrapartida?Poderia eu estar falando de contrapartida de superiores ou de nossos governantes, já que falei de reconhecimento, mas não. Não é a isso que me refiro como contrapartida para que um professor / uma professora tenha o mínimo de condição de ACREDITAR.Estou falando daqueles para quem e por quem descemos, por horas e horas, às fontes da preparação, da pesquisa, da reflexão e do planejamento, na intenção de que, quando voltarmos trazendo cheio um cântaro, os encontremos sedentos. Mas não. Ao chegar com o cântaro, ainda precisamos convencê-los a beber.Aqui quase desisto de continuar escrevendo.Mas, agora acredito que eu já tenha te convencido de que isso não é motivacional. Seria um desabafo? Talvez. Se assim o quiser definir, fique à vontade.Mas, também aqui, e devo dizer que agora, me dirigindo bem diretamente aos meus pares, aos professores, quero deixar bem claro que, no início, quando eu disse que NÃO estamos preparados, e quando continuei, mais adiante, dizendo que não estamos preparados para ACREDITAR eu não me referia a nós, PROFESSORES, somente. Eu me referia a nós, SOCIEDADE.Costuma-se dizer que Jean-Jacques Rousseau provocou uma revolução Copernicana na Educação. Tal qual Copérnico propôs que a terra que girava em torno do sol e não o contrário, como se acreditava até então, assim Rousseau defendeu que não era o "professor" que deveria ser o centro do interesse quando se tratava de educação, mas o aluno.Pois bem, isso até agora não tem sido colocado em prática na imensa maioria das escolas do mundo todo e, pior que isso, em muitas escolas e em muitas sociedades está cada vez mais distante disso.Pois que, a tal afirmação não se tratava de valorização do aluno e desvalorização do professor, como superficialmente, ou grosseiramente, pode até parecer. Tratava-se, na realidade, de que fosse colocado, não o interesse NO aluno, mas "o interesse DO aluno" como centro motivador de toda a ação que a educação pudesse pretender. "O interesse DO aluno". Aquela "sede" de beber do que está no simples cântaro. A essa altura, talvez eu já pudesse dizer que isso é mais que um desabafo, uma verdadeira "denúncia". Ainda há dúvida por que tenho medo?Acrescento que como denúncia, não denuncio somente a outros, mas a mim também. Incluindo-me quando uso a primeira pessoa do plural. E aqui, continuando a falar com meus pares, quero convidar a refletir comigo sobre o seguinte: O que nos move no sentido de acreditar, quando sabemos que essa contrapartida, até existe por parte de alguns, mas que a porcentagem é pífia?E, apesar de pequena, essa porcentagem que responde, que apresenta a contrapartida está isenta, na exata medida em que responde a esse anseio do "que traz o cântaro cheio".Penso que o que nos move deve ser "basear as nossas atitudes no que somos e temos a oferecer e não na contrapartida que recebemos". Não nas atitudes de quem recebe as nossas ações. Para continuar acreditando que há esperança de que a curva, da educação, que já há algum tempo desce íngreme, possa encontrar o seu ponto de inflexão e voltar a subir.Posso jogar tudo isso ao vento, das redes, o que é hoje bem mais comum e não é difícil. Ou decidir apresentar isso, exatamente, aos mais próximos. Aos imediatos. Àqueles em quem, realmente, penso desde quando as palavras me subiram à mente. O que seria muito mais difícil, entretanto, poderia ser, imensamente, mais eficaz.Resta saber se terei coragem...Pois o simples fato de o apresentar já seria um divisor entre a visão que muitos têm a meu respeito e a que passariam a ter a partir de então. Talvez eu tenha de me sentir envergonhado e de cabeça baixa reencontrar meu grupo por ter cometido a prevaricação de assumir que acredito.O que eu esperaria ao expor esse pensamento é, simplesmente, que cada pessoa que o ler, realmente reflita nele com sinceridade e que, silenciosamente, junte-se ao grupo que acredita e está disposto a tomar atitudes positivas, ou... que não me apedreje e que não me desfira olhares como a quem isso merece. Mas, principalmente, que continue a me tratar como uma pessoa normal e digna. E que a resposta positiva a respeito desse pensamento seja não mais que, "vamos pensar juntos, positivamente?"Se eu divulgar em alguma rede social, e se alguém julgar digno de um comentário positivo, o melhor elogio seria fazer com que chegue ao maior número de pessoas na esperança, não de ser visto / reconhecido, mas que possa ter mais alguém levantando a mesma BANDEIRA!
Um professor que acredita.