Autoenganação

Já caminhou pelas ruas?

Viu o que há nas ruas?

Não é o que

É quem, meu senhor...

Aquele homem semimorto

Jogado e esquecido

Na esquina da rua dos miseráveis com a rua dos desgraçados

Não o viu, senhor?

Ou apenas fingiu que não?

Bem, apegou-se na ideia de ilusão a realidade

Não o vê, mas também não sentes esse cheiro?

Sim, o odor de álcool

Que o coitado se mergulha para disfarçar a fome e o frio

Quantos ventos de Antártica o inválido passa, todas as noites

Eu te explicito, senhor

É um frio imensurável.

Não chega nem perto da devastação gélida do teu coração, senhor

Mas é frio.

O avulso, sobrevivendo de furtos famélicos

Pediu-lhe um cigarro

O senhor disse que não fumava

Aposto que se pedisse comida

Diria que também não comia

Se lhe suplicasse água

Diria que não bebia

Senhor...

Quantos morrem na sua frente

E você segue em frente

Quantos lhe imploram ajuda

E você diz: “hoje não amiga, desculpa”.

J Sousa
Enviado por J Sousa em 05/05/2020
Código do texto: T6938276
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