Reflexões na Quarentena #2 - Furos na Personalidade

Li certa vez que é errado se comparar com os outros. Passei muito tempo me perguntando: por que é errado? O que tem de mais no simples comparar? Acho que o momento que eu estou agora é o mais próximo que cheguei de responder essa simples pergunta. Todo mundo é algo, todo mundo tem algo a oferecer, suas qualidade, defeitos e aquilo que simplesmente são. Quando olhamos para o próximo, vemos um monte de coisas que não temos, posses, habilidades, relações, existe todo um conjunto de cobiça pelo que o outrem tem. Querer algo não é ruim, nunca foi, o problema é que nós transformamos aquilo que não temos naquilo que somos. Somos pobres, somos lentos, somos burros, somos tortos, somos ineficientes. Rótulos que não são baseados naquilo que realmente somos, rótulos que se medem mais pela falta, pela escassez, por aquilo que vemos e achamos que precisamos. Isso é algo tão comum no dia a dia que em algum momento das nossas vidas passa compor a nossa personalidade. Vemos o mundo por lentes cheias de buracos. Buracos que não se preenchem facilmente. O buraco as vezes é tão grande que a gente desiste de tapar ele antes mesmo de tentar. A verdade é que não somos o buraco. O buraco não importa. A gente é o que é, não o que não é. Agimos com o que temos, da forma que podemos e vamos atrás daquilo que a gente quer, mas, de forma nenhuma, somos o buraco que a sociedade criou para a gente se diminuir e sofrer por isso, buraco que a gente se enfia mais e mais, até a gente olhar para si mesmo e não nos enxergarmos com mais nada. Não acho que isso seja uma boa coisa de se acontecer com qualquer pessoa, é importante ser mais esperto que o buraco, ver quando ele começa a crescer e jogar a terra necessária para tapar esse vazio, preencher ele com você mesmo, ser você e agir como você. Espero do fundo do coração que as pessoas mantenham os seus próprios copos mais cheios de si mesmo do que cheios de vazio. O que é também uma indireta para o meu próprio ser, como todo e qualquer texto meu é.