Ação Dialógica e Autonomia

Na perspectiva de emancipação, pensar em uma comunicação dialógica implica em pensar os diversos meios comunicacionais que vivenciamos diariamente que por vezes passa desapercebido, mas que moldam comportamentos e modos de decisões. A teoria da ação dialógica que fora sistematizada por Paulo Freire, sobretudo, em sua obra Pedagogia do Oprimido num momento de consolidação de sua educação problematizadora trabalhada dedicadamente pelo autor. Dada tal importância ao diálogo, é possível dizer que no âmbito educacional, dialogar não pode ser “doutrinar”, mas socializar para uma reflexão-ação. Dialogar vai muito além de trocas de idéias ou conversar sobre assuntos sempre polemizando os mesmos. No entanto, em Freire, é através de uma conversa teremos uma reflexão coletiva com a possibilidade de criar-se ou de aprimorar-se ações emancipadoras dos sujeitos, que ele denomina de oprimidos. A liberdade de indivíduos (homens e mulheres) expressarem as suas idéias, exporem o que pensam e o motivo de tal pensamento, junto com o outro, gera a interação e a partilha de diferentes concepções que impulsionam um pensar crítico-problematizador da realidade. Para Freire, partindo da prática dialógica, o sujeito irá desenvolver suas potencialidades de comunicar, interagir, administrar e também construir o seu conhecimento, amadurecendo sua capacidade de decisão, humanizando-se e tornando-se cada vez mais livre, posto quê, “O diálogo libertador é uma comunicação democrática, que invalida a dominação e reduz a obscuridade, ao afirmar a liberdade dos participantes de refazer sua cultura” (Freire; Shor, 2008, p. 123).

Agora, o conteúdo crítico é buscado, dialogicamente, através e com os estudantes e construído a partir do próprio conceito de mundo que possui. O professor através das contradições elementares da situação existencial irá problematizar a realidade e assim desafiar os estudantes a buscar respostas mais coesas e maduras intelectualmente, nunca deixando de lado a parte da ação. Os temas geradores para realizar os debates-dialogos devem ser temas significativos, vivenciados nas relações entre os homens e o mundo, isto é, temáticas que estejam na realidade concreta dos estudantes, em suas vivências. Logo, “[...] investigar o tema gerador é investigar o pensar dos homens referido à realidade, é investigar seu atuar sobre a realidade, que é sua práxis” (Freire, 2001, p. 98).

“[...] será a partir da situação presente, existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspirações do povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da educação ou da ação política” (FREIRE, 2001, p. 86).

Dessa forma, a ação educativa baseada na dialogicidade, além de poder proporcionar ao estudante um maior poder social transformando situações criticas em situações mais humanas, possibilita também aos sujeitos a busca constante de ações de solidariedade, respeito e responsabilidade com eles mesmos e com o outro, gerando a prática da alteridade. Neste sentido, a ação dialógica é coletiva, colaborativa e também organizada. Os sujeitos exercem naturalmente e existencialmente seu direito de usar a palavra, respeitando e dialogando com os demais sujeitos, com isso; visões de mundo são compartilhadas e debatidas, não são impostas, mas construídas coletivamente e por fim sintetizadas. A prática pedagógica, decorrente desses métodos, na perspectiva de dialogicidade e autonomia, rejeita a neutralidade do processo educativo, concebe a educação como dialógica, valoriza a diversidade de saberes e proporciona ao estudante desenvolver o pensar crítico acerca da sua realidade.

“Somente o diálogo, que implica num pensar crítico, é capaz, também, de gerá-lo. Sem ele, não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação” (FREIRE, 2015, p. 98).

Nós nos educamos juntos, de maneira solidária e através do diálogo, na transformação do mundo que está posto. As experiências de todos e todas são valorizados, seus saberes levados em consideração, neste sentido, o dialogo irá produzir em toda a consciência de liberdade e transformação, ou seja, a autonomia do alunado ocorre na prática dialógica onde eles expõem seus saberes e vivencias.

Portanto, o modelo de educação que encontramos na teoria freiriana, se diferenciou das técnicas utilizadas na época e até hoje podemos dizer, diferenciou-se por proporcionar uma aprendizagem onde o aluno é protagonista, logo, uma educação libertadora e não mecânica, uma aprendizagem em que os estudantes possam agir autonomamente e serem os próprios protagonistas de suas decisões e saibam solucionar os problemas que vivem. Destarte, a Metodologia proposta por Freire rompeu com a concepção mercantilista e utilitárias do ato educativo, realizando uma nova proposta de alfabetização. Neste sentido, o Método Paulo Freire continua vivo, contudo, convém ressaltar que há necessidade de recriação constante em toda e qualquer prática educativa, inclusive no método freiriano.

Fico nítido que as propostas tanto de Freire quanto de Habermas convergem para o desafio de construir uma nova sociedade, de bases democráticas, a partir de uma nova racionalidade, essencialmente crítica e emancipatória, essa racionalidade tem por proposta cultivar o debate, a comunicação e a produção do entendimento como fundamento primordial do nosso Estado Democrático de Direito, isto começa em sala de aula e a filosofia é fundamental para despertar o aluno à disponibilidade para o diálogo, o saber escutar, argumentar, isto conseqüentemente lhe amadurecerá a participação nos espaços público de forma madura e racional

PEDRO ANDRÉ ALMEIDA
Enviado por PEDRO ANDRÉ ALMEIDA em 03/05/2020
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