Estante
Havia felicidade nos primeiros dias
Uma inquietação que deixava evidente
A falta de palavras e assuntos
Para preencher as horas infinitas.
Houveram momentos de sonho
Que nos faziam enxergar solidez
Na paixão que vivíamos sabendo
Ser tão perecível quanto uma flor.
Me dói saber que as flores murcham,
Mas me conforta saber que não são
As únicas no Jardim.
Me pergunto porque me iludo
Com algo tão passageiro quanto a paixão.
E o coração representa isso,
O ir e vir das coisas.
Tão passageiro quanto o sangue em minhas veias
Tão imprevisível como o amanhã há de ser.
As memórias não vividas serão sempre
Um lugar vazio naquela estante
E o tempo há de me fazer esquecer a razão.
Um dia olharei e talvez não me pergunte
O que poderia ter estado ali.
Um dia.
Encarando tantas prateleiras vazias
Não só desse que passou,
Pois tudo há de passar.