Da Árovore à Vida
“No início do início só havia Ain Soph, que era representado pela luz branca que está em toda parte e em tudo. A luz que era Ain Soph e preenchia tudo; não havia espaços vazios ou escuros, somente a luz branca, não refratada, e ilimitada, que se irradiava por toda parte. Não havia começo para tal luz, e tampouco havia fim. Não havia nada fora de Ain Soph; só havia Ain Soph, que representava uma singular unidade e uniformidade” (Kim Zetter)
Mas houve então a necessidade de ter algo que amar e, essa foi a vontade primordial que motivou o desejo de criar os mundos. Uma abertura dentro da luz, iniciou o círculo que derrubou a porta do abismo. Aquele escuro abismo onde a própria energia luminosa, por inercia de se dar, injetou em ele a essência divina. E nessa ação, começamos a diferenciar o masculino da semente, do feminino útero da receção: vácuo infinito; cova da mãe. Foi pela ação do verbo, vibração, palpitando naquele abismo primeiro (como sístole e diástole começando a latejar, dentro do coração cósmico dos princípios) que tudo deu-se ao demais.
A semente que o Uno Todo Luz injetou na circunferência do abismo; na parte de luz removida pelo amor que precisa dar, recebeu a primeira graça, em forma de escrito inicial. Este ato de inseminar o virginal espaço, aberto nas trevas pela vontade amorosa da luz, tomou como fertilizante a letra inicial do Divino Eu Sou, aquela YHVH do Tetragrammaton.
Nesse espaço sem luz, emergindo trás a retirada do Brilhante Fulgor Incognoscível no círculo de retração, tomou o nome cabalisto de: Tzim Tzum. Fundo sem fundo.
Daí sabemos, que quando o Génese nos diz a respeito do "sopro da Vida inicial", está-se, a folha que explica, a ser referir àquele movimento de abertura diagramal. Aquele "Soprar as Letras Precisas" do YHVH, no útero cósmico materno, com o fim de ativar àquela árvore, que dará vida a todo o criado.
Sendo assim semente do sagrado YHVH, sendo aqui ventre cósmico da Mãe, o mesmo Tzim Tzum do imenso abismo ainda não compreendido. Mesmo aqui prossegue explicando-nos Kin Zetter: "Uma vez criado o espaço negro, Deus derramou uma quantidade medida da sua Energia para dentro daquela área. Ele enviou uma emanação, uma corrente de pura luz branca, para o centro das trevas ou espaço negro. A luz branca, ao mesmo tempo, desceu para o centro do espaço escuro e permaneceu, ali, conectada com sua fonte. Os cabalistas chamam a isso a corrente de Ain Soph Aur, ou a luz de Ain Soph"
Sempre essa luz é branca (brilho fulgor claro é), dentro da mãe, cegador, torna-se o principio Imaculado; dado o branco ser a cor composta por todas as cores, não sendo nenhuma delas sem ele concretizadas...
E mais adiante, nessa brancura, o Ain Soph, composto por diversos aspetos da fonte original (como substância que contem sua essência), através da inseminação sagrada do YHVH, gesta na mãe, aquela bendita árvore, da qual emergem suas dez esferas. E as ramagens ou caminhos entre elas, tecidos pelas 22 letras com sua entoação , com as suas correspondências numéricas, dentro desta geometria perfeita do amor.
Vemos então o principio da unidade e interação diversa dos números, letras, símbolos, na geometria cristalizando; desde aquela primeira onda energética ate a carne final. Holisticamente conetado, para no concedido livre arbítrio, tudo harmoniosamente ir, do primeiro ponto promanando, descendo, voltado àquele ponte a ascender... Sabemos, pois, acertada a afirmação de Pitágoras do universo ser numérico; a observação de Platão de que "Deus geometriza". Estando ambas em perfeita correspondência, equivalência e entoação. Pois na união achava Rumi o paraíso, dentro de nós está; na desunião o inferno da guerra. Desunião tende pois a inferior, unidade a aproximação, sem a qual não existe o amor... Ibn Al-Arabi, por isso afirmou o coraçao estar aberto a todas as formas...
Eis que desta união das letras como o valor numérico, dentro da geometria da semente foi, como a árvore que dá fruto. Como fruto que dá a flor, da flor surgem as poéticas palavras - na voz do verbo em ação: vibração.
Finalmente juntos, o Pai com sua semente, a Mae com seu ventre de compaixao, criaram um terceiro amoroso: o filho - o mundo, outra voz. Aí foi, que mais tarde, derivamos no incosciênte nós o símbolo celta do Trisquel, a Tríade gnóstica, a Trimurti indiana: o três no Uno, o triangulo equilibrando o son. Através de dez aspetos do Uno-Trino, nasceram as esferas, da semente em árvore crescidas como sanação. Depois a Flor que abre a vida. A vida do Todo do Uno ao Três que voltou. Do Três a primeira tríadade de esferas, serfiras, Sephiroth. Abaixo dela, Sete… Dai somamos 10, depois chegou o 12 – com o círculo do zodíaco anunciando o ciclo médio e menor… Holisticamente todo ligado dentro do Tudo: no ciclo maior… Eis aquele infinito poeticamente dentro deste finito, que somos nós: o divino também dentro de nós...
Assim é lógico concluir que seja a poesia pura a forma de transmissão de toda palavra sagrada, de todo sentido na fonte de universal conexão. E com a palavra, a voz chega, surge o verbo, com o verbo a intenção, dai a semente criando a árvore e dela a, de novo, promana a bela flor.
A flor tomba no chão contendo a essência, que de novo ativa no ventre materno da terra a vida em renovação... Mãe cósmica e mãe natureza, na arvore também em conexão.