Duas dimensões de uma mesma realidade

"Eterna é a vida não porque dura para sempre, e sim por não estar presa ao que chamamos de memória"

"Amanhã", "daqui a pouco", "ontem"... essas palavras existem de fato fora de seus significados? E se não existir, isso não significa que...

Parece que vai me faltar o fôlego, a iminência do instante é quase assustadora de tão misteriosa. Releio o que acabei de escrever, sei que passou, mas é no Agora que eu leio, e não no passado ou no futuro. Esse aparente paradoxo que todos nós experimentamos acontece porque a vida e as coisas se misturam, como duas dimensões embaralhadas. Sim, já passou, como passam estas palavras, mas em momento algum elas saíram do Agora; pode existir algo senão no Agora? Até para nascer e morrer é necessário o Agora.

Você entende isso? Isto é, você vê isso como um fato?

Só aquilo que começa deve ter um fim. Existe vida no passado ou no futuro? Não é uma pergunta retórica, não busque uma resposta. A pergunta é uma indicação, não uma dúvida. Veja.

Esse é um enigma extremamente sutil, e quero lhe desassossegar assim como ele está me desassossegando.

A memória traz a lembrança do momento que escrevi as palavras acima, confirmando a realidade do que foi. Sim, aceito que foi. Mas onde é que se passa esse tempo? Atenção, a pergunta não é uma dúvida. Veja. Agora, vêm uma dúvida: fixe em um ponto e veja que tudo está passando mas é sempre Agora. Não rememore. Como isso é possível? Não parece que o espaço é a causa disso?

O nada não pode começar nem acabar, porque é nada. Se todas as galáxias desaparecessem não restaria mais nada, ainda assim ele é quem nos dá a percepção de distância e tamanho das coisas. Sem espaço não saberíamos o que é grande ou pequeno, cima ou baixo, distante ou perto. É esse "nada" o enigma, onde todas as coisas nele estão, e ele nelas...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 30/04/2020
Reeditado em 01/05/2020
Código do texto: T6933623
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