Tempos Kafkaescos

Estava eu aqui em meus devaneios e reflexões frugais da madrugada, quando convenci-me em conceber vida aos meus pensamentos por meio deste registrar. Talvez, seja os efeitos colaterais de meu alarido. Sei que no âmago do meu ser existe uma criança, talvez aquela que Cássia Eller tanto citou que precisava duma tal de "malandragem", mas não estou aqui para tecer sobre bobagens. Desculpa-me a minha parvoíce, mas para alcançar os corações dos suprassumos da inteligência e da sabedoria é necessário rebuscar.

Começa aqui as contradições e as ironias, não quero ufanar minhas considerações, porém quero que as observem com atenção. Talvez, esses escritos entrem nas pastas dos "não lidos" ou dos "ignorados" fica a seu critério, já és de casa. Trata-se dos tempos Kafkaescos.

Hoje, pensava sobre a importância do tempo. Não é de hoje que sabemos que somos mastigados, devorados ou engolidos pelo tempo. Alguns meses atrás clamávamos por ele, tudo que queríamos era mais um tempinho de sobra, os afazeres costumeiros nos consumiam e quando percebíamos já era hora de levantar para o novo ciclo (não tão novo assim). Muitos se fossem visitados pelo gênio da lâmpada ou por uma fada madrinha pediriam "tempo" para gastar.

Chistoso e trivial, né? Agora, temos a riqueza em mãos. Mas, não sabemos o que fazer com ela. Estamos sendo ingratos? Tolos? Boçais? (Desculpa-me mais uma vez, retiro esse termo, alguns poderão sentir-se ofendidos, pois já estão registados em cartório a propriedade dele, é que sou novo nesse ofício da escrita e se faz necessário mais erudição). Sem mais tergiversar. Estamos em loop temporal. Não me acha veneta, talvez eu esteja no auge dela, mas não temos tempo para o tempo. Na verdade, nem queríamos mais tempo, só o ramerrão novamente, as alvíssaras nas coisas supérfluas e as celebrações à vida. Ah, essa sim ameaçada nesses tempos.

Porém, são devaneios para as próximas madrugadas, ainda preciso refletir sobre o seu valor e importância, porque agora ecoam em minha mente a frase opróbria do energúmeno (para esse termo sugiro que busquem sinônimos, um deles se aplica mais eficazmente, mas tenho que manter o "classismo" de não envolver religiosidade) "e daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?" Estamos sem tempo para o tempo, porém ainda tem tempo para arrepender-se, a frase não foi só de muito mal gosto, bem como diabólica (para os que acreditam).

Jorge Barbosa

29/04/2020

Jorges Barbosa
Enviado por Jorges Barbosa em 29/04/2020
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