Viver é esquecer

Quando deixamos de buscar nas coisas nosso bem-estar, ou quando desistimos de tentar entender a vida, descobrir nela o coração, explicá-la, então a mesma passa a se mostrar como é, nua e crua. É engraçado; depois que conhecemos o mundo é que percebemos que não sabemos de nada. Tudo que achávamos que nos salvaria da vida, e nos traria aquela sensação de segurança e felicidade tão sonhada pela humanidade, foi deixado de lado. É impossível, pensamos. Nos rendemos; largamos as armas. É muito difícil entender que aprender é esquecer. Para quê?, suspiramos. Mas com o tempo a vida vai nos respondendo... Não poderia ser de outro jeito.

É incrível esse choque de realidade; uma mistura de dor e prazer.

Ficamos ansiosos, de uma maneira gostosa, em relação ao futuro; ansiamos por viver, viver torna-se urgente. Não pensamos mais na morte, num limite, num fim; ao aceitarmos a morte, o limite, ao aceitarmos o fim nós perdemos todos os limites. A vida não morre, senão já era pra estar morta. Não há fim, nem começo. O que morre são as nossas ideias acerca da vida. Sentimos que sabemos disso, não mais como uma ideia, um consolo, mas como um fato. Não nos importa as ideias sobre o que é ou não é a vida, só o que sabemos é que coisas vêm e coisas vão. Ao nos encontrar passamos a ser mais sinceros com nós mesmos, cansamos de mentir. Só falamos do que sabemos, ou melhor, supomos saber, uma vez que falar é uma bela fantasia. Mas nossas palavras agoram possuem firmeza. Temos confiança na certeza de nossa experiência, não no sentido de passado, acumulo, e sim, de experiência imediata. Se morremos ou não, isso fica para outros. Só queremos aprender a cada dia. Não acumulamos mais, não nos prendemos mais aos pensamentos, viver é esquecer.

   

Fiódor
Enviado por Fiódor em 27/04/2020
Reeditado em 27/04/2020
Código do texto: T6930327
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