É aprendendo que se vive
Levamos uma vida inteira para compreender o básico, isto é, o essencial. Mas a verdade fica sempre por se revelar. Tentamos transmiti-la mas não se chega a tocar mais do que o vidro translúcido que separa a palavra da vida. As gerações, ainda ignorante, prepotente, inevitavelmente não compreendem o que diziam os mais velhos - sabe aquelas coisas simples que para nós, às vezes, passa despercebido por estarmos muito envolvidos em nossos ideais? Mas então chega um dia que seus sonhos, outrra horríveis e sublimes, vão desaparecendo; tudo parece um desastre, nada mais tem sentido, mas já não estamos mais dispostos a negar esse mundo sem sentido. Passamos a viver em um estado de indiferença serena; tornamo-nos seletivos; só queremos ao nosso lado pessoas que nos fazem bem; aquele sagrado bem da simplicidade - um sorriso, uma conversa, um beijo, um abraço.
Nessa fase começamos a entender muitas frases clichês, como: "quando ficar mais velho você vai entender". Agora, só o que importa é conseguir o pão de cada dia e partilhar experiências com aqueles que selecionamos para dividir esta experiência única de viver. Tornamo-nos refinados, porém simples.
Tenho a impressão que sempre fora assim, apenas os gostos, ou melhor, a aparência superficial muda de época em época. Metade de nossa vida somos inocentemente guiados por valores estéticos da época. Até que dos destróços de nossos ideais vamos lentamente aprendendo a reverenciar a vida que passou, a agradecer por tudo que vivemos. Agora nada mais pode nos parar, afirmamos a vida. Sim, queremos viver. Não importa como, ansiamos pelo amanha, agredecemos o ontem e aproveitamos a simplicidade do presente. Passamos a viver mais calmos, resilientes; aprendemos a cultivar essa serenidade, pois só ela vale a pena. Não desejamos mais mudar o mundo, as pessoas; os jovens nos trazem nostalgia de tempos idos, de quando éramos semelhantes a eles. Lembramos do tempo em que vivíamos carregados de sentimentos ostis, de pesadas preocupações desnecessárias, de como preferíamos sofrer a ser feliz, e rimos de nós mesmos. Adotamos em face da vida aquela postura de eterno aprendiz, pois é aprendendo que se vive...