Nada custa tanto quanto cuidar-se — exceto não se cuidar.
Lançamos pensamentos como se sobre a terra lançássemos sementes, sem olharmos para a terra, numa atitude indolente sobre um terreno que acreditamos dormente. Este acaba por reagir num gesto simplório, pois não tem como negar uma reação. Pois tudo que ao chão é lançado provoca a reação. Se semente ora é lançada, no ciclo será morta. Essa ação de morrer buscará a vida dentro de si e romperá toda resistência, mesmo que fustigada por espinhos ou maltratada por pedras, que se tornam armadilhas de incautos sonhadores. No tempo certo talvez venha a germinar oferecendo frutos e soluções.
Nisso não importará que suas folhas estejam cobertas da poeira temporal, pois lançando mão do ser pessoal, vai se elevando acima do chão raso, ressequido talvez, miserável com certeza, coberto de uma ganância fútil.
O sentimento mais primitivo desemboca do ego surpreendido, perdido em atalhos indecifráveis já carcomidos pelas dores. E o antigo infante se entrega ao colóquio de um levante, aceitando por fim, seu fim, num arresto de vida inútil, quando arrancado do chão e lançado sobre o mesmo chão para ser pisoteado em meio a brincadeiras pueris de crianças descalças, que teimam em pulular pelo terreno.