HÁ MAIS DE 60 ANOS
HÁ MAIS DE 60 ANOS
Há mais de 60 anos eu andava mascarado.
A máscara era feita de lenço de meu pai, dobrado em triangulo e amarrado com nó cego atrás da cabeça. Eu era, às vezes, Durango Kid, outras, Cavaleiro Negro. Meus cavalos eram as vassouras de minha mãe, umas batizadas de Corisco, outras de Faísca, quando sonhava Durango. Quando sonhava Cavaleiro Negro, os cavalos vassoura eram Satan ou Moleza. Tudo era uma realidade fictícia na cabeça de menino.
Hoje, uso máscara em cima de minha máscara, para proteger-me do invisível e, quem sabe, de uma realidade mortal. Naquela época derrotava marginais que assaltavam bancos, duelava com bandidos de todo calibre e saía vencedor.
Hoje, sou assaltado, por bancos e nos bancos, pelos xerifes da saúde, da economia, da justiça e tantos outros, que me restou apenas uma máscara, a da morte, do menino, que sonhava a imortalidade dos mocinhos e vive pesadelo num mundo virulento.