“Me Desculpe… Se Pisei em Você.”

Me desculpe, amigo... eu pisei em você… Eu te via todo dia e não percebia que você era gente. Achei que fosse uma poça d´água ou uma folha de primavera, verão, outono… e o inverno chegou. Pensaram que viria em Junho, mas ele chegou e não se sabe quando se vai. Me desculpe se pisei em você… Eu pensei que você fosse um pequeno guindaste com um gancho que me entregava coisas… E que deixava tudo mais fácil, simplesmente por eu ter “sorte na vida”; e hoje descobri, que você é uma mulher… E que tem sonhos atrasados ou desfeitos... e também tem medo da morte, medo de que alguém que você ama acabe morrendo. Você teme demais a solidão. Chá de maçã é o que passa dentro de mim quando escrevo. E chá de maçã pode doer ou pode alegrar, os meus dedos. Me desculpe se eu me esbarrei ou te chutei no caminho, pensando que era uma pedra, uma lata ou uma merda… Pois me dei conta de que você é um velho, um bêbado… um sujeito esquecido. E todos os seus sonhos foram por água abaixo, há anos… Muito tempo antes de todo este “auê” que estamos falando, falando e falando… você nem entende o alarde, você não aceita, você já está morto. Mataram você há milhares de anos atrás. Eu entendo… eu entendo… me mataram algumas vezes também, mas eu tinha sorte, e eu tinha família e amigos, e eu era forte e tive idade para nascer outra vez. Só pra poder voltar a pisar nas pessoas… Achando que são as areias de Guarajuba, as calçadas de Salvador… e as pedras do Meu amor.