Os espíritos sentem saudade?

Somos espíritos imortais e vivemos em duas condições: encarnados ou desencarnados - conforme nos encontremos ou não em período de passagem pelo mundo físico, com a necessidade de utilização do corpo físico. Quando estamos por aqui, precisamos da roupagem “de carne e ossos”, com dizemos - por isso, encarnados. Quando nos encontramos no plano espiritual, não necessitamos de corpo carnal - assim, estamos desencarnados.

Tudo que pertence ao mundo físico a ele pertence, com o corpo carnal não é diferente. Com o final da existência física, o espírito despoja-se do corpo físico que se desfaz. Livre do seu “uniforme de trabalho”, o ente espiritual é conduzido, pela espiritualidade amiga, no momento oportuno, aos locais adequados ao seu refazimento e preparo para a continuidade de seu plano evolutivo. Tudo em perfeita organização, porque concernente com a perfeita obra do nosso Criador.

Ao mundo espiritual levamos conosco os nossos pensamentos e sentimentos - e os resultados de nossas ações. No momento adequado, analisamos a existência finda e temos a alegria pelo que de bom aqui conseguimos realizar - que significa mais alguns passos na caminhada evolucional. Deparamo-nos, também, com a lembrança daquilo que não foi feito de forma adequada, que deveríamos ter agido de outra maneira - isso nos traz a sensação de que precisamos melhorar e queremos, então, a oportunidade de fazer diferente, para que possamos nos recuperar perante a Lei de Amor, a qual nos conduz à felicidade plena. Tudo, portanto, é aprendizado. O bem que trazemos em nós já passa a nos pertencer, a compor a nossa “bagagem”. O que não corresponda ao bem, a nossa consciência nos indica que precisamos nos livrar, como um peso a ser eliminado, a fim de prossigamos a trajetória com mais leveza. Percebemos que a ação construtiva é fundamental ao progresso espiritual e que a lamentação é infrutífera e representa estacionamento. Sempre é tempo de mudar e fazer o melhor - quanto antes começarmos, mais cedo estaremos iniciando o processo de retirar do nosso íntimo o que nos atrasa os passos.

Como somos exatamente os mesmos após o retorno à espiritualidade, entre os nossos pensamentos e sentimentos, naturalmente, estão os nossos entes amados que por aqui permaneceram. Como alguém já disse, a saudade é uma via de mão dupla. Se os encarnados sentem saudade dos que retornaram ao mundo espiritual, é perfeitamente normal que a reciprocidade ocorra. As partes ligadas energeticamente pelo pensamento - encarnados e desencarnados - precisam, então, aprender a lidar com esta questão - de modo que a intensidade da ligação não venha a formar ondas energéticas que causem desequilíbrio a qualquer uma delas.

No plano espiritual, os espíritos são amparados e auxiliados para que se mantenham em atividades salutares, de modo que possam compreender que é preciso prosseguir. Estudam, participam de palestras e passam, quando já possível, a desenvolver tarefas, de modo que possam pôr em prática, também naquele período, ações de ajuda ao próximo e de aprimoramento moral. Quando devidamente equilibrados para tal, são conduzidos, organizadamente, por aqueles responsáveis pela sua orientação e recuperação, para reverem seus amores. Tudo ao seu tempo. A oração, evidentemente, também é instrumento utilizado por quem se encontra desencarnado, com sublime efeito balsâmico.

Quem se encontra no mundo físico, tão logo sente a ausência de seus amados, defronta-se igualmente com a saudade, conforme nos referimos acima. O que fazer, então? Como agir, diante de um sentimento sobre o qual não temos controle? É preciso, como ocorre no outro plano da vida, buscar o equilíbrio. Manter a mente ocupada, evitando pensamentos pesarosos e pessimistas, e realizar, dentro do possível, tarefas em auxílio ao próximo. É fundamental que façamos a nossa parte, pois já somos capazes de entender que tudo é passageiro e que dias melhores sempre vêm. Sentir saudade é natural, evitemos, contudo, os exageros que conduzem à desarmonização e ao desequilíbrio. A oração, mais uma vez, é elemento fortalecedor e luz no caminho - oremos, pois, e prossigamos firmes. Um dia, no momento certo, poderemos planejar e viver lindas venturas - Deus não separa quem se ama. Façamo-nos merecedores.

Estes esclarecimentos nos são trazidos pela Doutrina Espírita, codificada pelo educador, escritor e tradutor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), o qual é conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec.