Qual é a sua ética?

Por que ser bom?!
O que te motiva a se comportar de maneira boa, bela e justa?

É o receio de ser punido?(Ética por coersão)
É uma crença de que o homem mau vai para o inferno?( Ética por medo)
É a crença de que o homem bom vai para o céu? (Ética por interesse)
Age assim por que acredita que obterá alguma vantagem no céu ou na terra?( Ética por conveniência)

Às vezes me pergunto: que tipo de ética temos praticado e que tipo de ética temos ensinado a nossos filhos?

Em verdade, nenhum dos exemplos acima é ética, pois ética é a expressão genuína da beleza interior. Ética é aquele belo motivo interior que nos impulsiona ao melhor comportamento. Ética é o princípio oculto por trás do comportamento moral praticado.

Não estou a falar desse conceito moderno de uma " ética relativa" que muda conforme o tempo e a pessoa. Estou a falar da ética atemporal. Aquela unidade dentro de nós, que, nas palavras de Aristóteles, nos impele a agir de maneira virtuosa e que, necessariamente, promove o bem e comove os olhos em qualquer lugar e a qualquer tempo.

Há um ditado ensinado pelas avós( as melhores): “Só é brincadeira se todos estiverem rindo.” Isto não te parece uma ética autêntica e atemporal?

O filósofo Kant também nos fala sobre o imperativo categórico: “Se todo mundo tomar a mesma atitude, o mundo será melhor?” Isto não te parece uma ética genuína e atemporal?

Essas duas máximas nos levam a uma reflexão anunciada por sábios de todos os tempos. A Regra de Ouro intitulada "Ética por Empatia" ou "reciprocidade."
“Trate os outros como gostaria que fosse tratado.”
Ou ainda, “não trate os outros da forma que não gostaria que fosse tratado.”

Eis um bom motivo para ser ético. Sou bom, gentil e justo porque é assim que eu gostaria de ser tratado. (e tenho dito)
Assim, boas indagações temos a fazer aos filhos travessos: como pode ser isso uma brincadeira, se o seu amigo está chorando? Se todo mundo agisse assim, o mundo seria melhor? Você gostaria que agissem assim com você?

Acredito que até aqui postulamos uma ótima direção na educação de toda humanidade.
Trata-se da ética por reciprocidade que é uma ética por entendimento e não uma obediência dogmática. Neste caso ela pode englobar tanto crentes como ateus.

Mas para aqueles que querem um pouco mais, levantemos essa questão em outro patamar:

Será se não existiria uma Ética mais profunda?
Qual seria a Ética da mãe que se sacrifica pelo seu filho? Qual seria a ética de um homem que se sacrifica pela humanidade? Estariam eles pensando em reciprocidade?
Acredito que não. Acredito que seria uma ética reta, sem especulações, mas por amor, por instinto de dever. Talvez por isso várias tradições ligam a figura de um Deus como um pai ou uma mãe, caracterizando a ética universal como a ética do amor.

Da mesma forma não seria assim a Ética dos sábios? A Ética dos homens divinos? Daqueles que conhecem a verdade e veem a deidade por trás de todas as coisas? Quais seriam as motivações destes homens iluminados para serem éticos?

Entendo que essa regra de ouro, essa regra da reciprocidade de altíssimo valor, ainda não é a Ética final, mas uma ética intermediária, pois ela ainda dá espaço a alguns subterfúgios, senão, vejamos:

Pessoas que aplicam essa regra de ouro, poderiam guardar em seu íntimo o desejo de fazer algo não valoroso, mas não o fazê-lo pelo nobre sentimento de empatia. É como que essa regra levasse a seguinte conclusão: “ainda que eu deseje fazer. Ainda que em meus pensamentos eu o faça. Ainda sim, na prática, não faço ao próximo o que não gostaria que fizesse a mim.”

Outro motivo que me leva a pensar que essa ética não é ainda a ética final é por que ela não abarca a ética consigo mesmo. Isso por que, ainda que a ética por empatia lhe impedisse de prejudicar os outros, você poderia estar disposto a machucar a si mesmo em busca de prazeres desmedidos, que, em tese, só estariam fazendo mal a si mesmo. São exemplos a gula, preguiça, luxúria...

Assim, ainda que eu entenda que a empatia é um sentimento nobre, filha do amor e da compaixão, ainda sim, me parece que essa ética não garante o auto amor, que nos impele a nos relacionar conosco e com o mundo de maneira justa, bela e boa.
Da mesma forma, não abrange por completo a purificação dos nossos pensamentos de modo que naturalmente aprendêssemos a pensar e desejar apenas o que é bom, belo e justo.


Nesse sentido, penso que a ética final é a ética daquele homem sábio que é amoroso e não segue regras, porque ele é a própria regra.
Ele não tem motivo para ser bom, porque ele é a própria bondade.
Ele tem convicção, sabe e, portanto, é.
Ele é livre de obrigações e não segue nenhum caminho porque ele se tornou o caminho.

Para o sábio, “o próximo” não existe, pois ele vê a unidade. Assim, fazer algo ao próximo, ou fazer algo a natureza é fazer algo a si mesmo.
Para o sábio “os gostos” foram superados e seus “quereres” igualam-se aos seus deveres.

Eis o que me parece a ética final: a ética dos homens divinos.
A Ética por amor, por dever, por reta ação, por convicção.
Aquele que aprecia fazer aos outros aquilo que sua melhor parte se compraz em receber.
A Ética por que Sim.

Acredito que os grandes sábios nos deixaram como legado intelectual a ética por reciprocidade, pois como pais da humanidade que conhecem seus filhos, eles sabiam que não seriamos capazes de alcançarmos diretamente a ética final. Assim, por compaixão, esses mestres da humanidade nos ensinaram a ética da empatia como um caminho.
Contudo, embora tenham nos deixado essa ética racional da reciprocidade por escrito, foi pelos seus exemplos que nos deixaram o vislumbre da ética final pura: a ética por amor.

Nem relativa nem subjetiva, a Ética é atemporal e absoluta.
O que varia é a distância do sujeito em relação ao Sol.

Mil léguas da luz solar, temos o ardiloso, utilizando-se da ética no interesse de sua conveniência.

Quinhentas léguas da essência divina, temos o ignorante, que age apenas para satisfazer seus instintos egocêntricos.

Cem léguas dessa grande verdade, desse bem e belo, temos o acuado, que controla seus instintos refreado por uma ética coercitiva de medo.

Uma légua desse arquétipo solar da justiça, temos o homem esclarecido, que segue a regra de ouro, a ética por empatia e reciprocidade. “Façais ao próximo apenas o que gostaria que façais a você.”

Por fim, sobre o Sol, o Homem autêntico e sábio, ético por que sim. Ética pela Ética.


Curiosidades:
fonte : https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_da_reciprocidade

No zoroastrismo (cerca de 660 - 583 a.C.)
"Um caráter só é bom quando não faz a outros aquilo que não é bom para ele mesmo." − Dadistan-i-Dinik 94:5

No budismo (cerca de 563 - 483 a.C.)
"Não atormentes o próximo com aquilo que te aflige."−Udana-Varga 5:18

No confucionismo (cerca de 551 - 479 a.C.)
"Não façais aos outros aquilo que não quereis que vos façam." − Analectos de Confúcio, 12.2 e 15.24

No hinduísmo (cerca de 300 a.C.)
"Esta é a suma do dever: não faças aos demais aquilo que, se a ti for feito, te causará dor." − Mahabharata (5:15:17)

No judaísmo (cerca de 200 d.C.)
"O que é odioso para ti, não o faças ao próximo. Esta é a lei toda, o resto é comentário."−Talmude, Shabbat 31ª

No islamismo (cerca de 570 - 632 d.C.)
"Nenhum de nós é crente até que deseje para seu irmão aquilo que deseja para si mesmo."−Suna

No cristianismo (cerca de 30 d.C.)
"Portanto, tudo que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles."−Jesus, no Sermão da Montanha, Mateus 7:12[
Atma Jordao
Enviado por Atma Jordao em 17/04/2020
Reeditado em 11/10/2020
Código do texto: T6919761
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