Todo dia é domingo
 
O ser humano é estranho. Mesmo a vida indo bem, diz que poderia estar melhor...
E ainda há aqueles que dizem : - vai tudo “maizomenos”.
E de repente todos os dias viraram domingo. Sem aquele gosto amargo da ressaca de uma segunda-feira de manhã, todos os dias se tornaram iguais.
Sorte daqueles que conseguem dar cor aos seus dias. Cor terça, cor quarta, cor quinta, cor sexta, cor sábado. Apenas que não seja a cor cinza.
Quem não tinha tempo para o almoço durante o expediente, encontra-se inerte diante do tempo que sobra.
Quem não tinha tempo para a família, agora, sente-se como um intruso dentro de casa.
Nunca se quis tanto correr atrás do transporte público em pontos lotados. Chutando a lixeira, caindo por cima do desconhecido, disputando lugares. O que antes era um fardo, virou saudade.
Lembra daquele bate- papo descontraído com os colegas de trabalho? Deu lugar ao tédio do whatsapp; antes considerado um vilão para o patrão devido à distração. Esse mensageiro de celulares, em algumas situações, perdeu até a graça.
Ir ao supermercado é como ir à Disney. Depois de tanto tempo em confinamento, fazer algo útil se torna diversão. Antes era apenas necessidade.
Embora diante de tantas possibilidades, era preciso deixar a maioria dos planos para depois. Sempre para depois.
O emprego era chato, o supermercado era um fardo, o transporte era um saco. Ir à casa dos pais não era preciso, a babá buscava os filhos. O chefe era um mandão, o colega ao lado queria puxar o tapete, o cafezinho era aguado, as tarefas eram repulsivas, a esposa ou o marido, consumista.
Era necessário multiplicar o dinheiro para comprar o que não precisava. Várias roupas com etiquetas. Todo dia comia-se sobremesa.
Carlos Drummond de Andrade já dizia: “E agora, José?”
E agora, Pedro, Joana, Afonso, Luciana, e tantas Anas...?
Agora o tempo é cinza, perdeu-se o que tinha. Nunca esperou-se tanto por uma segunda-feira normal, mesmo com temporal. Fazer nada também cansa. O trabalho é desejado como brinquedo de criança.
Procuram-se seres humanos que queiram aprender a valorizar as pequenas coisas do cotidiano.
A última chamada é agora!
Alessandra das Graças
Enviado por Alessandra das Graças em 15/04/2020
Reeditado em 15/04/2020
Código do texto: T6918506
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.