Dor
O que é a dor? Parei absorto pensando nesta estúpida e insolente questão. Tudo que tem nervo sente dor. Toda laceração, queimadura, ou impacto físico tem por obrigatoriedade evolutiva gerar dor. Mas a alma não tem terminações nervosas. Esse efeito psíquico, gerado por uma conexão de neurônios, que faz com que nos apercebamos do mundo, não tem em si mesmo a natureza daquilo que provoca dor. No entanto, a morte, o medo do nada, um amor fracassado, um vínculo rompido causam uma sensação tão forte que todos abrem a boca e dizem: "dói tanto". Que tipo de dor é este? Naturalmente , não se pode negar que há sofrimento, mas de que natureza?Que substância é esta que mexe com todo o Ser causando-lhe tamanho desconforto, mas que também não engana? Curioso como a dor que não se sabe de que é feita é mais nítida do que a dor, digamos, aqui, da carne, ou melhor, dos nervos. Fico a me questionar, então: é dor ou afeto? É Percepção que tem em seus efeitos mobilizar e/ou paralisar? Parece-me que a dor psíquica é, na verdade, um desconforto afetivo que sinaliza como o homem se percebe e percebe os eventos: sejam internos ou externos: seus infernos! É, assim como a dor nerval, indicativo, mas, diferente desta, tem domínio próprio, pois não cede aos analgésicos. Sedativos não a fazem passar, pois apenas dão um tempo ao corpo , já que este acaba sendo sua morada. Quando dizemos que dói é porque buscamos categorizar sempre tudo o que nos é colocado, e fazemos isso buscando o que há de mais próximo, algo de análago. Nessa busca inquietante de pensar a dor chego a conclusão de que nada se sabe sobre ela, exceto que ela está aí, é condição inexorável do humano. Lateja, pulsa, inrrompe sem pedir licença, diminui as inflações do ego. Talvez, seja o dispositivo que lembre ao Homem sua finitude e desamparo: sua impotência diante da vida. Acho que de agora em diante não mais direi que dói, apenas exclamarei: sinto em mim o o que há de mais indicativo e de mais preciso de minha humanidade