Desvanecer

Novamente ele se viu preso naquele buraco negro onde caiu quando tinha quatorze anos. As raízes o prendiam ao solo úmido, e quanto mais tentava se desvencilhar mais atado a terra se encontrava. Imaginou, com lágrimas nos olhos e o rosto pálido sujo de terra, que seria como da primeira vez, quando ela, da face salpicada de sardas e cabelos de um castanho claro lhe salvara, mas isso não era mais possível, pois ela havia partido tinha anos para seguir seu sonho, assim como todos fizeram e ele também deveria ter feito. Agora era só com ele e sabia disso. Então, fechou os olhos, deixou sua respiração normalizar, ainda apavorado e sentindo-se sufocado, porém, consciente do que era aquilo. Desejou desvanecer e despertar naquela quarta-feira de outono, quando ainda a certeza de quem era ficava evidente para aqueles que o olhavam e seus amigos estavam por perto.

Pablito S Silva
Enviado por Pablito S Silva em 12/04/2020
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