A impressão que tenho da vida...
O homem é o contemplador da vida...
Em todos os tempos, a ideia de vida e morte sempre estiveram presentes. Mas seus sentidos têm-se diferenciado no tempo e no espaço, passando a serem ressignificados por cada cultura, por cada gesto e atitude que se materializam na própria ideia ou sentido de tempo...
Há algum tempo atrás, já ouvíamos a expressão: “estamos no fim dos tempos...” Como se algo ‘terrível’ estivesse na iminência de acontecer, devastando tudo que viesse pela frente, inclusive, sonhos...
Quem não foi vítima disso é porque ainda não chegou a sua vez, mas, em breve, com o passar dos anos, também estará sujeito a ouvir e perguntar a si mesmo. Por quê?
Por que tudo isso está acontecendo? Por que temos que passar por isso? Qual o porquê de tudo isso? Enfim, questionamentos que ressoam a cada momento da vida, em diferentes contextos de expressão.
De tempos em tempos, grandes acontecimentos surgem para arrumar o que está bagunçado, ou que poderia estar melhor...
Um meteoro atinge o núcleo central de nossa consciência, mudando o curso da história de nossas vidas, redirecionando nosso pensar, nosso olhar e nosso agir... Ressignificando espaços dentro de nós mesmos, que antes, nem sequer imaginaríamos que existissem.
Essa é mais uma prova, dentre tantas outras, de que não nos conhecemos a nós mesmos, com a intensidade que deveríamos nos conhecer. Temos sido iludidos pela nossa própria ideia de “consciência” ou, até mesmo, pela nossa frágil e vulnerável forma de ver a vida...
Vivemos em um contexto social que nos instiga a buscar, incessantemente, um padrão de vida e de “consciência” para pensarmos que somos felizes, e tudo isso busca se materializar com a velocidade do ontem.
Perdemos a natureza de saber esperar, desnaturando a paciência...
Perdemos o desejo de viver o real, para mergulharmos na sedução do intangível, da ficção, da fantasia e do Não real...
Mas a dor, mesmo não podendo ser vista, não deixa de ser sentida; o ar, mesmo não podendo ser visto, não deixa de ser sentido. Muitas são as possibilidades de manifestação do que não se vê, mas que se sente. E mesmo a morte, que um dia chegará para todos, não anunciará o seu dia, nem dependerá de um convite seu para ir ao seu encontro...
Para muitos, tudo isso é sem importância, algo incognoscível. Para esses, há uma expressão – Neófitos!
Neófitos, por que decidiram ser. Por não conseguirem ver o que está além do palpável... Por menosprezar a sensibilidade e por se indispor a se colocar no lugar do outro, mas que se disponibiliza a criar relações sem sentir o outro de perto. Por tudo não passar como algo “desprezível”... E hoje, mais do que nunca, sabemos que o desprezível está conseguindo ceifar muitas vidas... Sempre conseguiu, mesmo quando parecia não existir.
Cada vez mais o homem tem se afastado de Deus e, mesmo sem perceber, ele também tem se afastado de si mesmo, e de sua esperança de viver em paz.
Decerto, é possível imaginarmos que a felicidade seja um estado de espírito, e, desse modo, qual então seria o sentido da vida? Ser feliz? E se a felicidade passasse a depender de um espírito para ser vivida. Então, felicidade, espírito e vida precisariam estar alinhados, e em sintonia com o tempo e o espaço vividos.
Viver que deveria ser algo simples passa a agregar uma complexidade diante do contexto vivido. E toda essa complexidade, na verdade, não nos leva a nada...
Vivemos em mundo em que se projeta a simplicidade para o campo da ENUNCIAÇÃO, mas no plano real e concreto, as dificuldades e suas complexidades ainda são quem impera.
Temos nos predispostos a tomarmos partido por algo ou alguém que nem sequer o conhecemos, mas, nem por isso, temos ficado atentos a nos predispormos para pessoas que nos conhecem tanto...
Qual o porquê de tudo isso?
Onde nos encontramos nesse círculo da vida, de altos e baixos, de ganhos e perdas, de vida e morte?
Precisamos viver intensamente nossas vidas... Precisamos valorizar vidas... Precisamos desmaterializar os sentimentos... Precisamos nos tornar mais humanos e sensíveis, e nos esforçarmos para renovarmos nossa esperança de vida; que contribuam para transformar outras vidas, sem buscar se autopromover, e conseguir entender que tudo é passageiro...
A vida é uma passagem por muitos caminhos... Com muitas paradas... Com início de trajetórias e retomadas de percursos, e com um final que ainda não conseguimos decifrar...
Viva o hoje, verdadeiramente! Não mergulhe no mundo da ficção surreal... Há tantas coisas concretas e belas para serem vividas a cada dia. Busque-as!
E procure se reencontrar consigo mesmo, para também conseguir encontrar o caminho que o leve a paz interior, e que não precisa ser falado ou exposto para dar visibilidade de sua existência, mas, sentido, assim como a maior parte dos momentos vividos em nossa passagem.
Recife, 10 de abril de 2020.
Luiz Carlos Serpa