PESAR
Espontaneamente pensamos saber onde queremos ficar, para qual direção devemos ir e os caminhos que podemos seguir, mas, não nos dispomos a mudar.
Cientes de nossa identidade e do tempo como uma presença em nossas ausências nos lineamentos de nossa própria natureza e nas mudanças de nossa percepção de realidade, a consciência do retorno aniquila o sentimento e a lembrança de nossa presença num lugar que deixamos nos tirando o envolvimento de voltarmos para casa e a sensação do sentimento do que nos aconteceu. Parece que, após um tempo de distanciamento, adiamos as coisas ou baixamos a cabeça para o instante, preferindo nossas novas percepções, mas, sem a mesma paixão, remetendo o sentido e a permanência dessa afinidade para um momento futuro. Assim, mantemos o silêncio essencial da interioridade, sem perturbar a distinção entre falar e ficar calado, pois, a voz teme o silêncio que revela o seu vazio.
A atualidade, por causa de sua ambiguidade é destituída de paixão, valores e ação, delegando à reflexão as percepções de sua interpretação e os motivos de nossos sentidos, desprezando a diferença moral de Deus em nossas vidas.
Num mundo moderno de propaganda e publicidade, de nivelamento e perda de essencialidade sentimental somos seres imersos no dia a dia cientes de nossa instância interna, dos outros e das coisas, também, responsáveis por nossos atos condicionados a suceder e a falhar, nos preocupando com a nossa posição em relação ao outro, sujeitos ao equilíbrio, a superação e submissão.
Muitas coisas, à primeira vista, não parecem distintas. Gradualmente a silhueta vai se pronunciando, suas sombras e contornos começam a assumir um aspecto concreto se moldando em sua forma permanente.
Buscar conhecer através do eu e da mente é laborioso e solitário, contrário à esperteza em sua versatilidade, que transforma o real num ardil inexistente e a realidade em um espetáculo que mantém a estabilidade, mas ardilosamente esvazia o significado.
Como era aprazível, harmonioso e convencional nosso passado recente, antes do clima de guerra surrealista atual entremeado com o pavor do desconhecido invisível do espectro da morte em nosso encalço! Somos acomodados e damos como certas pessoas e coisas em nossas vidas, sempre levando em conta nossa saúde e condição estável do presente, proporcionadas pela comodidade conveniente que temos, até perdê-las. Ora, estamos recebendo uma lição sobre a perda aprendida com a morte de entes queridos, amigos e conhecidos por meio dos rumores do destino da fronteira não pensada, de que a tragédia compõe a vida.
O que ora ocorre mundialmente, evocando, em algumas características, outras crises de saúde e sensibilidades típicas às condições do passado da época da Peste Negra, com o transviamento de conhecimento, a desorientação dos reinados e nações limitados pelo feudalismo e os desvios religiosos sem os meios de comunicação modernos, repletos de cemitérios improvisados com amontoados de corpos envoltos em trapos sujos sobre o solo imundo e lamacento disputado pelos ratos, destinados à inumação anônima sem rituais e epitáfios, e a epidemia moderna da gripe Influenza do início do século XX, tragédias sobre as quais, até a atualidade buscamos encontrar seus significados, apesar da vasta quantidade de recordes e representações literárias ocidentais da realidade.
Novamente, em tempos modernos de conhecimento, ciência e tecnologia progressivos somos apanhados repentinamente no meio de um mergulho de cabeça, da luz recente da imagem de vida comunitária de sociedade comparativamente funcional e controlavelmente harmoniosa para as trevas do desconhecido inusitado, implacável e intempestivo, sem preparo e recursos suficientes, lutando contra o tempo num imenso esforço conjunto da humanidade, empregado para conter e deter o avanço da epidemia e eliminar essa nova praga biológica, correndo o risco de prejuízo à perspectiva do status desenvolvimentista de todo o saber até o momento adquirido, que nos confrontaria com uma realidade evidente de uma perda drástica de significado, em face de nossa incompetência e despreparo.
Apesar de a incerteza e preconceitos buscarem tornar a crença em algo nulo, mais do que nunca temos a necessidade de voltar à morada. O fruto de todos os nossos esforços para nos aproximarmos do pouco de saber que adquirimos é assimilado à cultura. No entanto, ao aceitarmos e nos conter na fé, nos tornamos instrumentos de Deus, e nosso conhecimento paradoxal é um apelo para Deus nos amparar.
Mateus 9: 12-13 ESV."Os que estão bem não precisam de médico, mas os que estão doentes. Vá e aprenda o que isso significa: 'Desejo misericórdia, e não sacrifício". Porque eu não vim chamar os justos, mas os pecadores ".