No divã

Quem nunca mergulhou entre dúvidas e baldes de insegurança que atire a primeira flor...

Hoje deixei de buscar o nível de (a) normalidade ou um nome que defina tudo aquilo que me compõe.

Tudo o que há em nós é de uma importância sem tamanho, inclusive detalhes que julgamos serem pequenos demais para valorizarmos.

Quem diria que o sonho sem sentido que por noites me roubava a paz, era na verdade um trauma não superado por conta de um acontecimento que eu desconhecia?

Por quantas vezes deixamos que o outro nos classifique e num ato de ingenuidade compramos os adjetivos cuspidos sobre coisas que nem nós mesmos sabemos ao certo?

Quantas vezes desistimos de algo apenas pelo medo da tentativa?

Quantos foram os momentos em que distorcemos nossos sentimentos por acreditar que eram insignificantes, ainda que significassem tudo para nós?

O que fizemos com os gritos silenciados da alma?

O que nos permitimos ser por conta do outro?

Como perceber e compreender que independente de qualquer vínculo, é preciso ser prioridade em nosso próprio universo?

De que outro modo eu poderia perceber que nunca dei um passo por mim mesma e que após quase três décadas comecei a caminhar sozinha?

Talvez a vida não seja cruel, mas sim o modo com que a encaramos!

Existir é uma ação simples e ao mesmo tempo tão complexa...

Confesso que nunca decifrei ao certo o que deveria ser feito. Nunca entendi se existia por mim mesma ou pelos outros... Se o fato de gostar de coisas diferentes me tornava única ou esquisita demais e com isso me tornei colecionadora de interrogações que foram como pedras em meu caminho...

Demorei para notar que tropeçava em meus próprios passos e que isso me desorientou de um modo que minha vida estacionou e parecia não ter mais solução.

Foi aí que uma luz surgiu no fim do túnel, mostrando que na verdade o túnel estava muito longe do fim.

Chegou o momento de me encontrar comigo mesma e confesso ter sentido muito medo.

Foi indescritível ter sido o centro das atenções quando eu me sentia vazia de sentidos... Foi como uma missão impossível definir quem eu era e encarar verdades que eu desconhecia ou nunca fiz questão de enxergar.

A vida sempre esteve comigo e o mundo em tons de cinza que eu enxergava, era o medo que aos poucos me cegava e me impedia de ver que tudo de melhor estava dentro de mim...

A cada encontro eram novas descobertas, dúvidas, pensamentos que foram me encorajando e transformando o olhar que eu tinha sobre mim mesma.

Nem tudo são flores e lidar com os espinhos deixados por certas verdades me trouxeram medos e inseguranças.

Foi preciso organizar um lado e ao mesmo tempo bagunçar outro para entender o que se passava e o que eu significava nesse meu processo existencial.

Hoje noto quantas conquistas me habitam desde que entendi que sozinha não sairia do lugar. Que na verdade seria sugada por sonhos e sentimentos sufocados que decretariam o meu fim, muito antes de qualquer início.

Hoje, graças a minha psicanalista o passar das horas deixou de me torturar. Consigo sobreviver ao trânsito da cidade, aos faróis que me atrasam ainda que por milésimos... Me sinto capaz de lidar com imprevistos sem que meu coração quase saia de dentro de mim....

Consigo olhar nos olhos das pessoas sem me sentir inferior a elas... Descobri que sou capaz de conseguir o que quero desde que eu acredite nisso e que o mundo seguirá com seu percurso e não vai parar esperando que eu esteja pronta para encará-lo.

Existe um momento certo para tudo e me dou o direito de ser contraditória alegando que não existe!

O momento certo é subjetivo e está em mim...

Ao olhar para trás já não enxergo as folhas vazias que me limitavam, o início do percurso já não pode ser visto... Sinal que a caminhada foi longa até aqui, ainda que uma única pessoa tenha se esforçado para me mostrar o que o mundo me esconde, os progressos foram imensos e torço para que ao passar de cada encontro eu me fortaleça para de vez ocupar o lugar que eu tanto temia: “O meu lugar no mundo!”

LPN
Enviado por LPN em 09/04/2020
Código do texto: T6911905
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