Sábado Febril
O dia está viscoso. Talvez seja um efeito do sábado. É como se tudo — as preocupações e as pendências, por exemplo — ficasse suspenso em alguma rede invisível acima de mim, a ponto de se arrebentar, para que nos domingos suas bases realmente cedam aos poucos. E fica a sensação: a gravidade me puxando com tamanha força que o meu estômago parece ter pedras, e eu fico sonolenta, e adquiro consciência de como os meus pulmões estão úmidos e a minha boca está úmida e a minha pele é pegajosa e as minhas costas doem e o meu diafragma quase não se contrai ao inspirar, eu não consigo pensar em muito ao mesmo tempo e eu quero pensar em muito ao mesmo tempo e me abate essa sensação ensurdecedora de que o céu está se rachando acima da minha cabeça.
Todas essas sensações estão com suas pontas suspensas: tudo está à margem do desastre. Talvez seja por isso que o descanso no domingo seja necessário: imagina se todo esse estardalhaço caísse de uma vez?