QUE DIZEM E O QUE É SER CONSERVADOR.

O dizer algo ou alguma coisa é muito complexo. Palavras são expressões verbais que demonstram ações, pensamentos ou interesses; falácias, mentiras ou enganos. Pode estar associada à realidade concreta ou subjetiva, ou mesmo, à subjetividade do concreto, fazendo dizer o que lá está ou o querer que lá esteja. Por tanto, dizer ou ouvir o que se diz deve estar acoplado ao filtro da coerência e da razão, lembrando que, coerência sem razão é fanatismo e razão sem coerência, charlatanismo. Por tudo isso, o ouvir dizer é sempre arriscado, apesar de necessário.

É no ouvir dizer que se ouve o que é ser conservador, e digo ouvir, já desassociando do escutar. Este implica captar sonidos, aquele absorver mentalmente o proposto. Ouve-se que conservadorismo é irmã gêmea do reacionarismo; que guerreia ferozmente em detrimento ao " progressismo” (e até deve-se, explicarei a posteriori); que é opositora da ciência; anfitriã de todos os preconceitos e estereótipos: a geradora de todos os males! Tudo isso é o que se ouve. Mas, o que de fato é? Que outras vozes de dentro e não de fora se diz ser? Eu me arrisco a descrever!

Antes de qualquer coisa, direi o que não é, mesmo há muito tempo já sendo, por ser tão repetitivo. Repetição, muita das vezes, pode se confundir com Verdade ao ponto de verdade tornar-se. Ou seja, a verdade torna-se verdade não pelo fato, mas pelo o que se ouve dela. A verdade construída sobre conservadorismo diz que ela é reacionária, uma ação contra a reação. Na verdade, como o próprio termo diz, ela conserva e não degenera. Só se conserva aquilo que é considerado bom ou proveitoso, ou já se viu, conservar carne podre? A carne que se conserva é a saldável, a que está em prazo de validade. Por tanto, em nada tem a ver o reacionarismo com o conservadorismo, sendo que o primeiro a tudo lança fora e o segundo observa o estado das coisas.

O conservadorismo certamente também não é contrário ao progresso, mas se opõe asperamente ao progressismo. Há uma tendência contemporânea de achar que tudo o que é novo é progresso, talvez, por observar não analiticamente as coisas observáveis. Diz-se: a nova pesquisa ou teoria de tal sujeito trouxe progresso ao mundo, a nova forma de comércio fez a economia avançar, a nova ciência nos trouxe inúmeros benefícios. Esquecem que tudo o que é novo, sustenta-se sobre o velho. A nova pesquisa é fruto de pesquisas que a antecederam; a nova teoria é reflexo, mesmo que por contestação, de teorias anteriores; o novo comercio ainda se baseia em uma prática de trocas de mercadorias tão milenar; a nova ciência se baseia em ciências já conhecidas. Por tanto, o novo que deu certo deve muito ao velho que certo deu.

Da mesma forma, portanto, que o novo deve muito ao velho, o novo só por ser novo não é sinal de progresso. Contar-se-ia quantas novas ideias não são conhecidas por serem ridículas? Quantas novidades já não se passaram nesse mundo e ainda aqui não estão por não terem gerado qualquer avanço? Poderia ser dito que a “nova ideia” do terceiro Reich de uma Alemanha nazista não democrática seria progresso? Que o novo recurso do Gulag no Comunismo soviético fez o regime progredir? Quantas novidades retrógradas! Por tanto, o progressismo a tudo o que é novo ele abraça, já o progresso estabelece a ponte entre o velho e o novo, em simultaneidade qualitativa.

Não é verdade, também, como já indicado de forma implícita, que a ciência em nada tem a ver com a cosmovisão conservadora. Por todos é conhecido que a ciência é a arte do saber. Mas como se sabe, se não de coisas, fundamentos ou elementos que já subsistem? Por tanto, o conhecer jamais se debruça no que não sabe que existe, apenas descobre novas coisas baseando-se em coisas que lá já estão, por tanto, a ciência em si é conservadora, sobretudo porque se sustenta na conservação do descobrir a verdade. Se tal prerrogativa da verdade modificar-se ao longo dos anos, logo, a ciência pode ser qualquer coisa, menos ciência.

Por último, no que tange ao não ser conservador, este de forma alguma é instrumento das aberrações preconceituosas ou de enclausuramentos estereótipos. A princípio, é necessário compreender o que é ser preconceituoso. Pré + conceito é a visão sem conceito, ou seja, a formação de uma ideia sem qualquer base conceitual sobre práticas ou sujeitos. O verdadeiro conservador, todavia, em tudo tem um conceito, não necessitando, por seu conceito, desrespeitar outros conceitos; não precisa também de estereótipos ( exterior + óticos= dar um parecer apenas no que se vê no externo), uma vez que conserva a internalização do conceito bem fundante do respeito. Não seria estereótipo assim acusar? Que associação há entre ter preconceito e ser conservador? Apenas no conceito deturpado dos que não conseguem conservar aquilo que tanto acusam o conservadorismo não ter!

Que seria o conservadorismo então? Tentando não repetir o que já disse nas entrelinhas, o sujeito conservador é antes de qualquer coisa um Cético (visão da qual, tomo emprestada do Caio Coppolla). Cético porque questiona tudo que na pele de novo se apresenta como desenvolvimento, cético porque duvida de construções sem densos alicerces; porque põe em juízo qualquer réu que queira destruir o que há séculos tem se constatado como efeito positivo. Seu âmago, por tanto, não está em “tudo deixar como estar”, mas “em que pontos devemos mudar”.

Na mesma linha, o conservador é obviamente um preservador, um amante de história e de tradições. Por ser preservador, é que de forma alguma se apresenta como aniquilador. Ele nada aniquila, mas reconstrói o proveitoso e aponta o que por si só irá se demolir. Por amar a história reconhece a trajetória das coisas que nos levaram a ser como somos e por ter tradições não facilmente se deixa convencer por palavreados ausentes de concretude.

O conservador, por fim, é um amante convicto, o amor, no caso, entendido não como “que dure enquanto algo novo surgir”, mas que “dure enquanto falecer”, pois quando falecido, um novo amor consequentemente se erige. O conservadorismo, por tanto, não gosta, ele ama. Ele não gosta porque o gostar é desapego, transitório e inconsequente, ele ama e por isso cuida enquanto não padece.

Felipêncio Júnior
Enviado por Felipêncio Júnior em 06/04/2020
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