Toque Humano
Recentemente assisti ao filme “A Cinco Passos de Você” (2019), uma obra leve, relativamente simples, mas com personagens marcantes e uma mensagem extraordinariamente profunda que todas as pessoas precisam receber! Sugiro que antes de continuar a leitura desse post você assista ao filme prestando atenção em cada cena, em cada diálogo. Quem sabe tenhamos a mesma impressão?
O casal protagonista sofre de fibrose cística, um problema de saúde que intensifica a produção de muco pelo organismo dificultando a respiração, levando a outros agravantes e podendo ser fatal, e, por essa razão, o contato físico entre eles deve ser inexistente, uma distância segura deve ser próxima de cinco passos (daí o nome do filme). Pois bem, com o desenrolar da trama eles se apaixonam, passam a se amar, e o contato entre as peles torna-se um desejo proibido. Se eles terão a sorte de sentirem o toque um do outro você só descobrirá assistindo, garanto que se emocionará!
Dentre tantos pensamentos que me foram suscitados, um me chamou a atenção e me inspirou a escrever esse texto: quantas vezes nos privamos de sentir o toque do outro e não nos damos conta da magia que há nesse gesto tão comum, corriqueiro, desvalorizado, mas de significado imenso? Sentir alguém é como ter a certeza de que se está vivo, mas quantas vezes tratamos essa demonstração de apreço com desdém? As mãos entrelaçadas sobre as mesas já não existem, deram lugar ao deslize agitado dos dedos sobre telas que parecem mais interessantes que o mundo ao nosso redor. Os abraços apertados que arrancavam sorrisos e lágrimas parecem ter perdido a sua essência, em seu lugar foram colocados os cumprimentos tímidos e apressados concedidos à uma rua de distância. Os beijos antes sutis e delicados que pousavam sobre os rostos parecem simples demais para a superficialidade de encontros casuais que terminam entre os lençóis e desaparecem para sempre sem valor algum.
Não estamos mais nos sentindo.
Não estamos mais sentindo a vida através de toques dóceis, amigáveis e amorosos.
O casal do filme, bem como tantas outras pessoas que não necessariamente sofrem por algum tipo de doença, apenas queria sentir o toque humano, o calor da aproximação, o gesto que nos dá a sensação de sermos aceitos e acolhidos. Mas não tinham esse direito. Enquanto muitos, capazes desse gesto tão humano, o subestimam por orgulho, talvez, desinteresse, quem sabe, ignorância, com certeza. Ignoram a força do abraço, desprezam o poder de um beijo fraterno, desvalorizam a importância de um carinho consolador.
Há poucas semanas tivemos no Fantástico, programa da Rede Globo, uma emocionante matéria conduzida pelo doutor Dráuzio Varella na qual ele conversou com uma detenta no presídio em que estava, perguntou a ela há quanto tempo não recebia uma visita, a mulher respondeu, claramente emocionada, que há 7 ou 8 anos. Ele reconheceu a solidão que ela enfrenta todos os dias e lhe ofereceu um abraço apertado. Grande parte das pessoas que assistiram à cena se emocionaram, elogiaram merecidamente o gesto do doutor, solidarizaram-se a partir de uma demonstração de afeto despretensiosa, puramente humana. O que seria toda essa admiração se não o desejo de também receber um toque humanizado?
Precisamos deixar de lado a superfluidade e a superficialidade dos dias atuais, dias nos quais as pessoas não têm tempo para abraçarem seus pais, beijarem seus filhos, recostarem-se sobre o ombro de seus cônjuges, sentirem a presença física de seus amigos. Não têm tempo ou não querem ter tempo. O toque humano é capaz de curar, de alegrar, de fazer sorrir, de fazer acreditar. O toque humano é de graça, nenhum dinheiro seria capaz de comprá-lo, pelo menos não a sua essência. É uma pena que muitos só reconheçam o seu verdadeiro valor quando já o perderam para sempre.
< Texto de @Amilton.Jnior >