Escrevivências
minha matéria, sou eu mesma
e a resistência de que sou feita
eu, pesquisadora de mim,
da minha existência
de minhas vivências
dos que vieram antes
As lutas e embates que travei e travo,
As situações em que me coloco
Os sonhos que escolhi viver,
A minha forma peculiar de me relacionar
Minhas observações tão atentas
Minhas angustias e conflitos
As divagações em que me perco
Os caminhos que percorro
a ancestralidade que carrego
as minhas falhas estruturais
essa curiosidade que me instiga
feito gente que nunca se cansa do novo, das possibilidades
minha consciência de classe que sempre me lembrou que eu precisaria estar sempre três passos a frente
essa determinação de quem não se cansa
e o cansaço de quem não desiste
a postura de quem não recua um milimetro sequer
a liberdade que alcancei na raça e que luto pra manter
minha vivência contaminada pelos azares e grandes sortes dessa jornada
as formas que desenvolvi pra resistir, pra me proteger, pra me nutrir
eu sou infinita
e nessa minha escrita
tem vivência
tem peso
tem suor
tem lágrimas
tem coragem
e tem resistência aprendida
além de infinita, sou também confusão
e sigo em minhas escrevivências