Escrevivências

minha matéria, sou eu mesma

e a resistência de que sou feita

eu, pesquisadora de mim,

da minha existência

de minhas vivências

dos que vieram antes

As lutas e embates que travei e travo,

As situações em que me coloco

Os sonhos que escolhi viver,

A minha forma peculiar de me relacionar

Minhas observações tão atentas

Minhas angustias e conflitos

As divagações em que me perco

Os caminhos que percorro

a ancestralidade que carrego

as minhas falhas estruturais

essa curiosidade que me instiga

feito gente que nunca se cansa do novo, das possibilidades

minha consciência de classe que sempre me lembrou que eu precisaria estar sempre três passos a frente

essa determinação de quem não se cansa

e o cansaço de quem não desiste

a postura de quem não recua um milimetro sequer

a liberdade que alcancei na raça e que luto pra manter

minha vivência contaminada pelos azares e grandes sortes dessa jornada

as formas que desenvolvi pra resistir, pra me proteger, pra me nutrir

eu sou infinita

e nessa minha escrita

tem vivência

tem peso

tem suor

tem lágrimas

tem coragem

e tem resistência aprendida

além de infinita, sou também confusão

e sigo em minhas escrevivências

Mariany Mendes
Enviado por Mariany Mendes em 03/04/2020
Reeditado em 03/04/2020
Código do texto: T6905187
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