O encontro

Oitavo dia de quarentena, por conta do novo coronavirus. Isolados entre algumas paredes, você e ele, momento propício para voltar a escrever. Depois de tanto tempo,,,afinal,,,com tempo. Nos quatro primeiros dias, confessa que se empolga com a possibilidade, vontade mesmo de matar a saudade, de ficar juntinho, de planejar o dia juntos, dividir de fato as tarefas, e, principalmente de se conhecer mais um pouco, ou até mesmo, se conhecer de novo. Sim,,,após o quinto dia, o tempo já se dedica a observar e analisar toda e qualquer moviment"ação" e o que supostamente cada uma delas possa significar.

Pensamentos como "Meu Deus! Você não fez isso!?, O que é isso!?, Você é louco ou o quê?!, Jesus! Como pude me apaixonar por alguém como você!?, Não temos absolutamente nada em comum!"; e por aí vai,,, de forma crescente e acentuada. Então, em busca de manter a sua sanidade mental e aliviar a convivência, e percebendo que nada será feito para, você se utiliza de sua criatividade, que nunca foi pouca, para planejar um encontro. Sim! Um re-encontro! Por que não?? Na sala! Na sala, porque o quarto está manjado nas duas últimas semanas. E a sala está vazia, porque ainda não é uma "sala" de verdade, só faz parte do seu projeto, que financeiramente ainda não lhe foi possível tirá-lo do papel.

Por isso mesmo, o lugar perfeito! E você, logo pensa, inicia a decoração, toda feita com jornais, o que dispõe em casa. São dois dias injetando aos poucos a ideia de que haverá uma festa! Muitos convidados, feitos por você com jornais, comida sofisticada, sanduíches e doces feitos por você, bebida, que Você reservou, sob certa pressão, para o momento, música, telão (sua única "tv", carregada do quarto para a "sala"), e, "tcham, tcham, tcham, tcham", suspense,,,sobre a sequência. O que pra você certamente se completaria com "e muito romantismo, e risos, e conquistas, e fetiches,, e uma noite que serviria de injeção de ânimo para enfrentar os próximos dez dias de isolamento. Durante os preparativos, você até percebe uma expressão ou outra do tipo "não sei se consigo entrar nesta viagem", mas nenhuma objeção declarada, sendo assim, convite aceito.

Chega o dia da festa. "Todos" parecem animados. Você, como toda e qualquer anfitriã, se preocupa com o tempo e se conseguirá deixar tudo pronto até a hora marcada. Mas que hora?! Você é lembrada de que não marcou o horário do encontro, ops, da "festa", quando ele, sugestivamente, lhe diz" "Será cedo, não é, digo, vai começar cedo esta festa, né?", sugerindo que se inicie umas dezessete horas, sendo que já se aproximavam das dezesseis. Como assim?!!! Quem vai a um encontro romântico durante a tarde? (Apesar de só você saber do que realmente se tratava). Só quem precisa estar bem cedo em casa, porque uma família lhe espera, ou minimamente, uma esposa, noiva, namorada, ficante, sei lá, enfim, quem já é comprometido com outro alguém que não é você. Tá, você racionaliza e sabe que já estão em casa e que já houve confesso de que não seria fácil embarcar nessa, ok. Oooouuuu, poderia ser também alguém que só vê a hora da festa começar para poder usufruir dos seus comes e "bebes", neste caso em destaque, porque você conhece bem sua " seleta lista de convidados". Broxante.

Mesmo desconsiderando a hipótese de possível traição, a mais provável também era literalmente tosca e humana. Humanamente masculina.

As inferências, que você tentava evitar dias atrás com a rotina, ocasionam certo desânimo, quando se percebe que a ideia não foi sacada por "todos". E retornam com toda criatividade possível, maior do que a sua ao elaborar um plano de encontro. Você até pensa em boicotar a própria festa e não comparecer. Sair, não! Pensamento suicida não valia a pena, em hipótese alguma. Melhor recuar um pouco, tentar analisar a situação à distância, apesar de pouca, no banheiro que fosse, mas buscando um equilíbrio e um bom argumento para cancelar o evento.

Só que as horas passam rápido demais, como em nenhum dos dias anteriores, e você continua reclusa em seus pensamentos e já se entedia sem quase nada de alternativas, a não ser,,, levantar, se preparar para "a tal festa", nem que seja pra se destrair um pouco, comer, beber, dançar, jogar conversa fora,,,e por aí vai. Até porque você não é obrigada! Hehehe! E vai saber o que a noite lhe promete, não é mesmo! Talvez algum convidado inusitado lhe surpreenda e lhe faça acreditar ainda mais no amor.

PS.: Uma figura interessante, que lhe agrada muito, lhe chama a atenção repentinamente. E o melhor é que ela está na fila, aguardando para entrar na festa.

Dotty
Enviado por Dotty em 01/04/2020
Reeditado em 01/04/2020
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