Morrer ainda não é o mais difícil
Se tivesse a oportunidade de ser a vida, retiraria de mim todas as complexidades, afastaria todos os sentimentos contrários aos bons, manifestaria o desejo de viver só, para inverter o fardo que a afoga.
Imagino-me ensimesmado, a agonia a apertar o coração por perder um ente querido, o vislumbre do fim a alcançar e que quando tocar aí já não estarei. É um buraco sem fundo, onde se cai sem nunca chegar ao chão.
A vida mostra muitos caminhos a seguir e se calhar, um deles apenas dá para a realização, ou talvez nenhum.
Viver é uma tarefa difícil, onde o resultado final é obscuro ou serpenteado.
Hoje sou, amanhã não serei, afinal o que se passa com a vida? O que ela é na realidade, se para cada um tem sabores diferentes?
Há várias explicações em torno disto, mas são só explicações por circunstâncias que nos circundam ou por necessidade de pacificar os espíritos.
Recorro a vários caminhos para tentar a sorte, de pelo menos encontrar algo que me torne satisfeitos, para não chegar a frustrar-me.
Aonde vai a vida? Aonde vai a terra, os que partem e tudo quanto desaparece? O que ganho com todo modo de ser, estar, fazer e não só?
Nem sequer sei o que há-de acontecer depois!
A mania que tenho de policiar a mística, não me torna superior, pois não considero absolutamente verdadeira a racionalidade usada na explicação das imponentes circunstâncias, em busca do sentido vivencial.
Afinal também nem tudo pode explicar a razão, nem a crença!
As vezes sinto-me colocado entre duas paredes que distam pouco menos de metro e meio e ainda assim não consigo alcançar sequer uma delas e é por esta razão que digo que morrer ainda não é o mais difícil.
No meio destas situações assisto a uma acirrada luta, a existência de um muro que separa a razão da mística e é normal que veja assim.
O maior erro que cometo como pensador é muitas vezes de coisificar o mistério, mesmo sabendo que são perspectivas bem diferentes, nenhuma delas tão taxativa e dependem de quem as encara.
A vida de que tanto a ciência se prende para derrubar a mística é quase sempre reticente e muitas vezes dá no final para um mesmo fim “crer numa força invisível e superior à razão”.
Para muitos casos não estamos preparados, nem fomos ensinados a suportar.
Entendo a vida como um prato típico que tomamos num restaurante, ao qual por ínfimos minutos sentimo-nos satisfeitos, soberbos pelo prazer que proporciona, levando a quem o delicia a esquecer os problemas, mas que em pouco tempo desaparece, apenas sentimos a saliva e quando der por ela nada mais interessa senão expeli-la para sempre, pois, já não serve.
Ela é cheia de euforia e prazer, angústia e infinidades de problemas, desejos de superação incessante.
No fim nada mais significa, tudo torna-se escuro e as pessoas deixam de lembrar de nós como tal, apenas ficam as lembranças, não haverá retorno, reencontro, nem reencarnações, é o fim do mundo para quem sucumbe.
Por mais hábil ou exímio que seja, as suas complexidades idiotizam a minha estratégia para chegar ao provável resultado certo ‘’a realização’’ ou felicidade, como quiser tratar.
Ela não se compadece com tentativas e sim com feitos e bem-feitos.
Por isso reitero que morrer ainda não é o mais difícil.
Por: José Jerónimo