A Pandemia de 2020
Ao vivenciar um momento como este, em que as pessoas permanecem isoladas umas das outras, e que o pavor toma conta da população mundial, percebemos que há a necessidade de repensar sobre vários aspectos das nossas sociedades. Seja a respeito do modelo adotado nos sistemas de saúde, seja em relação a nos adaptarmos aos novos modos de obter alimento e produtos essenciais sem ser preciso sair de casa, seja em meios de continuar a educação à distância, considerando a desigualdade que assola o mundo, o que não permite o acesso à internet de forma igualitária. Mais que isso, nós temos a oportunidade de ponderar sobre o que está acontecendo e saber distinguir entre as coisas e as pessoas que são realmente importantes em nossas vidas.
Em momentos como estes, as nossas mentes se tornam vulneráveis e nos sentimos inseguros e desprotegidos. Nós desejamos que tudo isso passe e pedimos por dias em que só tenhamos que nos preocupar de novo com as despesas do lar e com os problemas comuns da vida. Mas e as pessoas que sequer têm algo para chamar de lar? Essas sim precisam de apoio dobrado.
Infelizmente, algumas pessoas ainda propagam a ideia de que o Covid-19 não é algo tão sério e que isso tudo não passa de alarmismo da mídia. Entretanto, os fatos nos mostram que o rápido avanço desse vírus pode trazer consequências catastróficas com o número de mortes crescendo cada vez mais, de forma exponencial.
Eu me chamo Ísis do Vale Meira Lima, tenho 20 anos e fiquei bem doente nesse período. Ainda não sei do que se trata ou se estou também contaminada, pois os médicos se negaram a fazer o teste de coronavírus em mim, já que não sou caso de risco. Eu estou doente há uns 13 dias. Tive febre forte, dores no corpo, tosse constante, falta de ar, fraqueza e tontura. Até um ataque cardíaco eu tive, mas devido a uma superdosagem de prednisona que o médico me recomendou tomar para melhorar a tosse. Inclusive, fiz eletrocardiograma naquele dia. Nunca pensei que fosse fazer aquilo. Duas enfermeiras tiraram minha blusa e meu sutiã. E, como eu estava sob efeito de diazepam, que o médico mandou aplicar na veia assim que eu fui atendida, não pude nem compreender direito o que estava acontecendo. Mas agora, estou apenas tossindo bastante. Eu também estou com medo, pois vi que um rapaz jovem de 26 anos morreu, ainda que saudável. Eu quero viver para contar essa história e muitas outras que estão por vir. Eu quero melhorar. Eu quero passar por isso e superar uma vida marcada com dores, decepções, sofrimentos, mas também muitas conquistas. Eu quero ter outra chance. Eu quero ver o brilho do Sol e o calor percorrer meu corpo. Eu quero ser cientista e continuar realizando meus sonhos. Eu quero ser muito feliz ainda e fazer outras pessoas felizes. Espero que eu fique mais um pouco neste mundo. Mas, se não for me dada a escolha (nunca nos é dada a escolha sobre as coisas plenamente), só me resta aceitar com paz no coração e com consciência de que fiz meu melhor nesta vida. Talvez, a este mundo esteja mesmo reservado o sofrimento. Não entendo. Como pode assim? Um mundo de paz e com pessoas gentis que respeitam e amam a natureza é o que eu quero. Por que é pedir tanto? Talvez, essa seja a nossa grande lição.