Bezerro de ouro

-Avante irmãos! Do contrário a peste vencer-nos-á

Diz um homem que caminha pelas cidades desertas, seguido somente pelo seu grupo leal!

Pessoas honradas, que ali estão por devoção ao seu mentor.

O mentor diz:

-Avante! Não está muito longe!

Seu grupo em uníssono responde:

-Estamos logo atrás do senhor!

Assim, o tal mentor confiante de si, e com um sorriso orgulhoso, pensa consigo mesmo:

"Eu sou um líder! Estou aqui, guiando este grupo, e todos me obedecem! De fato, eu devo ser muito importante para eles."

Porém, seu pensamento é interrompido pelo questionamento de um integrante:

-Mentor! O senhor nos disse que iria demorar só mais uma hora para chegarmos, mas já fazem duas horas que estamos caminhando.

O mentor respondeu:

- Nada é certo, quando o caminho é custoso! Confie em mim! Ao chegar lá, valerá a pena.

Todos nós mostraremos nossa devoção para o mundo, e esse cansaço será recompensado pela sensação de estarmos servindo ao nosso pai!

Ninguém disse mais nada. Continuaram a caminhada.

Após alguns minutos, o mentor fez um sinal para o grupo, dizendo que haviam chegado no local sagrado, denominado assim pelo próprio mentor. E o mesmo, pôs-se a discursar.

-Meus amigos… Meus irmãos! Eu sei que estamos vivendo tempos difíceis. Sei que a caminhada foi dura, e que muitos se voltaram contra nós! Mas estamos aqui! Vamos mostrar a nossa imensa devoção ao nosso pai! E além disso, vamos mostrar a todos aqueles que se acovardaram, com medo da peste, que somos um povo leal!

Ouve-se uma salva de palmas do grupo. Todos de joelhos, após as palavras do mentor.

Pouco tempo depois, o grupo se juntou em um círculo, e começaram seus votos de devoção. Mas logo algo os interrompeu, um som metálico, vindo dos céus.

Um rugido em forma de risada ecoava no então silencioso culto, que calou-se mediante o tal som.

Então, uma figura sem face apareceu frente ao grupo, e ao seu mentor. Carregava consigo ouro e prata. Não tinha aparência definida, apenas fazia sons metálicos.

O povo do grupo, em desespero, clamou ao seu mentor que os salvasse! Mas o mentor levantou-se, e pegou ouro, e a prata das mãos da criatura. Depois, de costas para o grupo, e de frente para a criatura, soltou um suspiro, e em seguida, disse:

-Vocês me seguiram até aqui. Ignoraram todos os que vos avisaram do perigo da peste. Ignoraram a si mesmos, e ao vosso pai, que, em sinais de alarmismo, levantou-se em razão, na mente dos homens de bom coração!

Vocês não me seguiram pensando no pai, mas sim na glória. Ora… pobres ovelhas, pobres crianças… Que devo-lhes dizer mais, além do fato de que vos enganei?

Não sou quem pensam que sou!

As pessoas do grupo se mantiveram-se imóveis! Pálidos, sem fala.

A criatura de frente ao mentor, sumiu! E o mentor, começou a mudar de forma. Transfigurou-se numa fera de olhos negros, e disse:

-Daí a César, o que é de César! E a Deus o que é de Deus.

Assim, jogou a prata com o ouro, sobre o grupo. Nesse momento, as pessoas caíram deitadas em sono profundo.

Álvaro De Azevedo