Quarentando e modificando-se

“É melhor acender uma pequena luz que praguejar contra uma grande escuridão.”

Tantos pensamentos, inúmeras informações, fartos interesses, múltiplas vontades diferentes. Aspiração de conhecer todo o Brasil. Ler os grandes clássicos da literatura. Ser uma grande escritora. Mergulhar nos estudos alquímicos da perfumaria botânica. Deixar-me ser guiada pela ancestralidade da mãe terra. Readquirir a consciência do holismo. Aristóteles já afirmava em sua obra Metafísica que o “todo é maior que a soma de suas partes”. Ser uma pujante médica e grande sabedora da ciência dos astros. Embarco por diversos continentes. Em meio a um turbilhão de pensamentos e ideias me locomovo. Sinto a permanência de um sobrevoo ao mundo de desejos. Como num redemoinho que circula e provoca uma pressão que me trás diversas indagações. Com quais saídas quero me deparar? Será que elas permanecem nesse manifesto exterior que preciso apreender e estudar? Ou será que posso entesourar dentro do meu ser? A conexão com a minha centelha Divina. Essa religação me leva a mares nunca dantes explorados. Como a alegoria da “ilha do conhecimento” proposta pelo físico Marcelo Gleiser: a nossa vida é como uma ilha, onde o conhecimento se acumula paulatinamente. O oceano ao redor dessa ilha simboliza nossa ignorância. A ilha tende a expansão, pois acumulamos cada vez mais conhecimento conforme a passagem do tempo. Nossa sapiência é cada vez mais desenvolvida, assim, a ilha é cada vez maior. Assim como júpiter que, no momento, aponta no céu para capricórnio, aterrando e expandindo controladamente nossas fronteiras mentais.

No entanto, quanto mais crescer a ilha, maior será o tamanho de suas fronteiras. E isso aumentará o contato da ilha com o oceano da minha ignorância.

No sentindo prático dessa alegoria o aumento de conhecimento acarreta um necessário aumento da consciência que temos de nossa própria ignorância. E, assim, não há um fim para esse processo: nunca haverá o momento em que saberemos tudo quanto há. E, para a surpresa do leitor, isso não representa um derrotismo. Admitir nossa ignorância nos permite reconhecer que somos um grão de areia por vezes perdidos nessa ilha, chamada de conhecimento e que podemos contribuir para que esse grão se transmute em uma pedra, quem sabe preciosa.

Ainda assim, não tenho o que temer e a aceitar minha tamanha ignorância. Pois é pelo reconhecimento de sua existência que me liberto da caverna de Platão e me torno liberta de minhas próprias sombras, dos meus falsos conhecimentos adquiridos pela minha falta de conhecimento e de interesse.

Como disse um louvável poeta chamado Roberto Evangelista, a firmeza no pensamento é a sua conexão com a verdade. Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. A verdade é Deus. Quando o pensamento se nutre da luz divina, ele está sintonizado com a verdade. Assim, quando o conhecimento se une com a verdade a pessoa se torna firme no caminho da retidão.

A palavra verdade em hebraico, vem da raiz do verbo (Aman) que significa suporte ou sustentáculo – estar entre os esquadros – firme.

A palavra hebraica “Amém” da mesma forma provém desta mesma raiz hebraica (isto é, Aman). Devido a isso, no Apocalipse, Jesus é chamado de “HaAmen”, o Amém – o sustentáculo, a base firme, testemunha fiel e verdadeira. Assim, ambos têm o mesmo significado: essa afirmação e essa confirmação contêm o próprio senhor.

A letra V é o 22º número do alfabeto. Isso explica os recônditos da palavra verdade e associa-se com o ano de 2020 que estamos vivendo e com a quarentena que estamos passando.

O número quatro no tarô é o imperador e representa a concretização e estabilidade. O ano de 2020, somado, é o 4 que representa o número do imperador, do operário, do obreiro, e também da família. Assim, o 4 é o símbolo da lei e da ordem. Assim, Deus vem organizando seus filhos nesse tempo disponibilizado por ele, pela quarentena: construir uma nova realidade, reconstruir uma morada de Deus interiormente. Enquanto isso, o imperador vem trazendo para cada boa semente, progresso.

Assim como a letra D representa o 4: o dilúvio está ligado a ele, esse também durou 40 dias. A Quaresma conserva-se em 40 dias. Quatro anos que persistiu a peste bubônica que assolou um terço da população europeia no século XIV. Não é à toa que essa quarentena traz o mesmo simbolismo da perduração dos quarenta dias.

A representação da quaresma é em prol da reflexão e do exemplo de Jesus para a nossa mudança interior. Que sigamos o exemplo de São Miguel, que realizou 40 dias de forte oração e penitência. Que o nosso jejum seja de abster-se de palavras pesadas, pensamentos negativos e pessimismos. Que a pandemia seja de amor, de fraternidade e paz. Que as noticias disseminadas sejam substituídas por palavras de carinho, serenidade, aceitação, responsabilidade e consciência coletiva. Que aprendamos com esse início de lua nova a plantar sementes para um novo amanhã, seja por meio de um pensamento positivo, uma palavra amiga ou um gesto de carinho. Que assim como a lua nova, consigamos abraçar essa oportunidade e meditar na conjunção com o nosso Rei Sol, nosso Pai superior.

Sob essa ótica, que tenhamos como espelho a primavera em nossa volta: se modificando, transmutando. Que assim como a fênix, possamos superar esse momento, renovando-nos e renascendo para o melhor que há de vir em nós. Que a primavera, estação da limpeza, seja de renovação tanto interna quanto externa. Enquanto a natureza move-se para longe do inverno frio, úmido e escuro, o pulso da vida acelera, a terra esquenta e floresce, buscando o sol. E que venha o verde, folhas e flores e traga, junto a elas, a esperança. E que junto floresça nossa energia vital, nossa saúde integral.

Amanda Hoffmann
Enviado por Amanda Hoffmann em 23/03/2020
Reeditado em 24/03/2020
Código do texto: T6895030
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