O PERDÃO E A DESCULPA
"Pode-se perdoar, mas esquecer, isso, é impossível"
(Honoré de Balzac)
Deixaria, pois de perdoar a quem então não desculpei?
Ou não haverá diferenç'alguma entre a desculpa e o perdão?
Cruel açoite a machucar a minha pobre alma
A que se arde nest'hora em sua mágoa
E, deste modo, serena não mais s'encontra
Quanta tortura, meu Deus! Quanto veneno! Quanto inferno!
A corroê-la qual implacável verme em minhas entranhas
Ao qu'ela se sacode como que mordida por uma serpente
Todavia, ah! o tempo passa...!
Perdoar a quem injustamente me feriu?
No que, pois rogaria num'hora o meu perdão?
Ah! E por que não?
Perdoá-lo-ei... então!
(Caso o diz qu'em verdade, se arrependeu)
Porém, desculpar, oh, não! não desculpo... não!
Por que culpado s'é no mal uso de sua liberdade
E vede, portanto, a merecer o seu soldo
Embora não venha tanto por mim,
[contudo, pela Justiça... da própria Vida
Ou será qu'em verdade perdoamos somente
[depois que punimos a quem nos feriu?
(Humanamente falando)
De quem não s'esqueceu a bofetada recebida
Visto que a guarda em su’alma... (triste e agredida)
Obcecadamente
Embora há também quem, pois suplica o nosso perdão,
[para que, outra vez, se dê ao direito de nos ofender
(Já que crê que tal direito o tem)
Ah! Sei lá por que estou isto a dizer
(Talvez, mais por desabafo!)
Mas, verdade é que quanta diferença há... entre desculpar e perdoar!
Contudo... deixa isto pr'á lá!
Seguirei o meu caminho... então
É o que melhor nest'hora farei!
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23 de março de 2020