Devaneios: perdido na imagem/imagem perdida
Ontem me dei conta que já não há mais reflexos no quarto. Removi todos os espelhos, sabe-se lá quando, e tenho uma vaga e efêmera ideia do porquê. Foi nesta percepção súbita, então, que comecei a indagar o insuportável da imagem que constitui esse ser disforme. E veio com ela a problemática: Chegamos ao ápice da precarização? Ora, as respostas me apontaram o tamanho paradoxo deste estado atual: o corpo é o assombro , o *ser persecutório*, mas também é ele uma espécie de base, suporte em que o ideal vai sendo elaborado. Há momentos em que a idealização é vívida na fantasia, em algumas vezes, entretanto, o próprio fantasma efetiva meios em busca de objetivação. Perdido nesses devaneios passeio pelas infindáveis memórias, contemplo e assimilo as imagens, assombro-me na procura de uma face que preencha o rosto seco, de ar perdido, que já não se identifica. Chego a conclusão que todas São nuances de um Eu que não mais se mostra, pois em todas suas sobreposições já se firmou outro, mas sem rosto, sem reflexo, pois o espelho constitutivo também se perdeu: ou os anteriores se recusaram amalgamar? Sabe-se, este Eu, que ele está em todas elas, mas já não é mais nenhuma . apresenta-se, portanto, vazio. Mas, penso, com uma gota de esperança, que o vazio, também, é potência: Afinal, só se engendra aquilo que há lugar para se estabelecer. O problema é que a construção vem do outro, aquele que se presentifica nos espaços comuns... Mas estes tem sido tão ordinários, tal como o próprio nome preconiza. Ordinário também terá que ser esse Eu desfigurado? Ou continuará a se relacionar com uma imagem persecutória de um outro que, na verdade, se mostra devastador para ocultar também o vazio em que se encontra. Estaríamos todos fadados a esse nada que engolfa? A esse caos que só é contido pela elimação de todo instrumento que denuncia a ausência ou a presença do desconhecido?