DESLOCAMENTO
Como um fantasma de um pensamento que se foi, as pessoas se encontram no vazio de ideias quando perdem a informação armazenada eletronicamente no lugar intangível desconhecido onde computador e a internet se unem, em vez de comprometer o pensamento com a memória natural.
Numa cultura que terceirizou a qualidade essencial de existência para máquinas, transformando nossa capacidade coletiva de procurar o sustento de nossas imaginações e curiosidades ao entregar nossos ritmos naturais ao imediatismo do computador baseado em princípios algorítmicos triviais de reconhecimento, e a internet, que não é somente a fonte de acesso ilimitado ao conhecimento, mas, absurdamente, também, o terreno fértil de uma aceitação geral da falta de competências com as redes sociais que não produzem ou reciprocam nenhum tipo de conhecimento, estamos otimizando nosso pensamento com as tecnologias, e não o oposto, pensando estar acrescentando, quando na verdade estamos nos tornando menos produtivos, menos atenciosos e menos habilitados de afirmar qualquer capacidade de agir, pois, a internet produz uma alteração fundamental na relação entre conhecimento, conteúdo, lugar, espaço e ação estendendo nosso sistema nervoso já amplo e trigonal para tanger os nervos e sinapses de um mundo em mudança e caótico.
É impossível imaginar um contexto ou grupo local para qualquer coisa que alguém crie, pois, a internet expande o horizonte de toda expressão ou ato simples para um nível virtualmente universal, descentralizando a ideia do global de qualquer local privilegiado. Mesmo o desconhecido está sempre disponível nominalmente ou substancialmente, pois, tudo o que está presente está disponível na rede e pode ser conhecido.
A relação entre o usuário e a internet com foco na competência em seus mecanismos de busca, para nos assistir a se envolver mais conscientemente com o mundo, precisa disponibilizar confiança para operar com autocrítica, fundamentando a utilização do sistema em confiança e dúvida, sem quantificar e encaminhar vastas informações na sociedade para que possa ser concebida como parte da realidade, dissolvendo a diferença entre sujeito e objeto.
Numa atualidade instantânea de tempo líquido, efêmero, confuso, mutável e imprevisível é preciso nos precaver na capacidade de controlar nossa tecnologia, priorizando vínculos entre seres humanos, e não transistores, para evitar um futuro de determinismo tecnológico nos tornando em vasos vazios e sem caráter.
Estamos num ponto de virada na história de evolução projetada, na qual assumimos o controle de nossa humanidade com o intento tecnológico de não modificar o ambiente à força, estando cada vez mais voltados para o interior modificando nossas mentes, memórias, e personalidades, informação e tecnologia, ultimando com o pensamento na busca de a sabedoria conquistar a dor, sofrimento, estupidez, ignorância e até a longevidade, eliminando os males que flagelam a humanidade desde tempos imemoriais.
Ao longo da história, todas as divindades falharam em nos proteger e salvar uns dos outros, de nós mesmos e da natureza, para finalmente recorrermos a nossas próprias mentes e assumirmos a responsabilidade por nós mesmos.
Como criaturas naturais em um mundo natural, pensamos, somos capazes de nos reprogramar e estender nossas habilidades por simbiose com outras pessoas expandindo nossa visão além da perspectiva e habilidade de nossos ancestrais.
Apesar de as máquinas serem muito mais fortes e mais rápidas do que qualquer criatura biológica, a ciência da computação não se trata realmente de computadores, mas, de maneiras de descrever processos, e nunca atingirá o conceito de nível humano. Na verdade, nem sequer temos uma definição operacional de inteligência. Portanto, nem mesmo em princípio as máquinas podem fazer tudo o que um ser humano pode fazer--ser consciente.
Apesar de todos os avanços tecnológicos, não podemos fabricar máquinas autônomas capazes de pensar através dos processos de pensamento abstrato humano, raciocínio, memória e reconhecimento de padrões, observando, entendendo e sentindo como as pessoas são conscientes, pensam, sentem, pretendem, têm empatia, simbolizam, socializam e moralizam, para desafiar as tradições religiosas e vitalistas que por tanto tempo nos protegem de mudar a maneira como nos enxergamos. Há apenas uma equivalência parcial entre algoritmos e vida. Mas, não o suficiente para manufaturar aparatos inorgânicos que serão mais inteligentes e melhores do que nós, que nos substituirão. Chega da ficção científica e dos filmes fantasiosos!
Na corrida entre a inteligência natural e a capacidade dos dispositivos eletrônicos, podemos antecipar que haverá surpresas e mistérios, pontos fortes onde temos pontos fracos e pontos fracos onde temos pontos fortes.