O QUE É LITERATURA? E POR QUE ELA É UM DIREITO?
Em consequência da existência de alguma coisa denominada “literatura”, existe também a motivação por defini-la. Comumente, em uma abordagem menos refletida, atribui-se o título de literatura a um determinado conjunto de textos, geralmente considerados “de alta cultura”, “clássicos”... Mas por que os classificamos assim?
O juízo de que uma obra é literária, ao contrário do que se poderia pensar, não obedece a critérios objetivos. Esse entendimento varia segundo o contexto. Prova disso podemos ter ao descobrirmos que certa obra hoje tomada como literatura, no passado, não era, e vice-versa. Também não define se o texto é ou não literário ele se tratar de ficção ou obra factual. Nas duas categorias, há textos vistos como literários e textos que não o são. Além do mais, distinguir ficção de fato nem sempre é tão fácil.
Não ser pautada por critérios objetivos não faz da literatura uma conceituação arbitrária. Ela está atrelada à ideologia da sociedade na qual se encontra inserida. Não por acaso, quando uma nação emerge, emerge junto uma literatura nacional, validando seus valores, princípios e normas. Cada povo possui suas expressões literárias. E, muitas vezes, parte destas expressões é legitimada enquanto outra é marginalizada.
O fato de toda cultura possuir suas expressões literárias, com as quais seus membros dialogam diariamente, conduz à seguinte reflexão: qual a influência desses produtos sobre as pessoas? Analisando, veremos que a literatura não exerce somente influência leve no espírito humano... tem caráter formador deste. Os conteúdos culturais com os quais nos relacionamos moldam a maneira como enxergamos o mundo, e as formas da literatura orientam a organização dos nossos pensamentos.
Dito isso, verifica-se a importância de se tratar a literatura como direito. Pois a mesma, no seu sentido mais amplo, é indispensável para a vida humana. Ademais, manter parte da população privada das condições necessárias ao acesso e usufruto pleno das diversas e ricas formas de literatura já produzidas significa privá-la de várias possibilidades de ser e se relacionar com o mundo.