SONHO DO OPERÁRIO

SONHO DO OPERÁRIO em O Pergaminho 19.03.20

Eu brinco com as palavras mas as levo muito à sério, delas conheço os anseios, sua magia e receios, suas manhas e mistérios! Conheço as regras do jogo, não jogo pelo empate, só se entra em combate quando se almeja ganhar, separo o trigo do joio, e verso de pé quebrado, meio capenga e zarolho, os coloco em bom lugar! E assim faço a minha parte do jeito que sei e gosto, lanço poemas ao mar, eu teimo mas não aposto! Quero odores, quero cores, no encantado jardim da Praça dos Mil Amores, onde esqueço os meus temores, sei que nem tudo são flores, tenho saudade de mim! Vem pro churrasco na laje, bem despojado é o traje, não tem varanda gourmet! E se a verdade é tão casta, o preconceito se afasta, e a razão rota e gasta enfeita a alma encantada! Se ela é santa ou safada, se é madrasta ou madrinha, não sei se é gorda ou magrinha, só sei te dizer que é fada! A caravana passa e os elefantes se afagam os peixes se abraçam namorados se amassam e a saga continua! E na rua não tem poste goste você ou não goste aposte no amanhã, maçã, romã, abacate, desacate, grite, berre, desenterre a esperança, e na dança rodopie, mas nunca, jamais se fie em mentiras deslavadas, escalavradas figuras em canduras disfarçadas! Dá-lhes óleo de peroba para conservar, e confiante, dedo em riste, mais alegre do que triste, chega de falar de lua, minha rima é terapia, lá na rua me espera o rei leão de cada dia! Faca amolada e fé cega, já dizia a tia Assunta; quem deve berra e nega, e a vez é de quem pergunta, acredite, eu não brinco, não sei se fico ou se vou, atenção, vamos ao circo vai começar mais um show! Quem delatou a propina da jogatina faz parte, comissão é purpurina, partido é porta-estandarte! No jogo do ganha-ganha, se alicerça a delação, quem sabe banca a barganha pra não ser boi de piranha, não vai pagar o pato, se livra quem tem poder é o eterno discurso, conversa para gringo ver, é o rio que segue seu curso! Cegueira generalizada causada pelo radical partidarismo, não adianta discutir eles não sabem ouvir aquilo que os desagrada! Eles não entendem a contabilidade criativa nem corrupção ativa nem a razão da tal lista, mas sabem que é armação de uma tal mídia golpista. Incentivaram o consumo e o povo foi às compras, era o que importava, dar-lhes a sensação de poder! E a cortina de fumaça foi ofuscando os desmandos, povo comprando é povo feliz, pensa só no seu umbigo e no seu próprio nariz! E a falsa sensação da tal ordem e progresso, domina então o Planalto é elogiada no congresso! E no colorido da tela comprada com o tal cartão, o povo assiste novela para esquecer o seu drama, e vive na ilusão, logo mais vai faltar grana para comprar o feijão! E o sonho do operário é querer virar patrão!

AC De Paula

poeta/compositor/dramaturgo

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AC de Paula
Enviado por AC de Paula em 19/03/2020
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