O Velho Ancião
Vejo a efemeridade pairar por todos os poros de meu corpo. Compreendo a fragilidade do eterno e a subjetividade do mesmo. Sou como um grão de sensações em meio a um deserto inteiro de seres humanos, repletos de suas próprias galáxias.
Fecho os olhos, então, procurando em mim algo que seja pouco provável que dure muito. Penso... e encontro a raiva.
Me conheço quando estou raivosa e percebo o quanto tenho a tendência de não me agarrar à ira e mesmo assim a constância com que a sinto nos dias que se seguem. Não me apego a raiva, nunca guardei muitas mágoas.
Procuro compreender um pouco do que sou através dos olhos de alguém muito próximo e assim consequentemente e obviamente me perco.
Tenho em mim fragilidades gigantescas e que hoje tomo a decisão de controlá-las e trabalhar a favor do desapego.
Olho o Desapego, repentinamente, como uma entidade... O procuro dentro de mim como se fosse um ancião escondido em alguma caverna por detrás dos meus ossos ou navegando pelo sangue, livre.
O procuro e acho que o vejo, mas ainda não consigo me aproximar. Tento me comunicar mas ele não me ouve ou finge não me escutar.
Sinto que para chegar até ele preciso construir uma canoa e navegar também pelo sangue e o encontrar nessa caverna com todo o respeito do mundo. Com a real e total percepção do porquê o procuro.
Sinto que quero estar com ele com uma certa arrogância, querendo chegar de frente a esse velho sábio e dizer: "Me ensine a ser como tu e livre-me de todo sofrimento que o seu oposto me causa"
Seu oposto, sendo o Apego, na verdade para mim aparece como uma mulher sedutora e de companhia agradável. Ela paira por mim em situações específicas, como por exemplo, diante de paixões de minha carne e também paixões de meu espírito.
Essa canoa que preciso construir para no sábio Desapego só pode ser construída quando estiver livre da paixão, por um breve período. Assim a construirei com humildade.
Para me desapegar não posso pensar que quero me livrar de angustias, mas sim que quero crescer. E mesmo sabendo que quero crescer, não posso correr atrás desse crescimento com algum tipo de ânsia e sim fluir naturalmente, sem pressa ou receio e enfim me libertar quase sem perceber.
E eu estou cada vez mais próxima de percepções e percebo o quanto meu Ego tem haver com isso.
Todos os sentimentos e emoções, de repente, os enxergo como entidades e Deuses. Todos eles existentes dentro de mim e fazendo morada, brincadeiras e construções dentro do meu corpo. Quase se eu fosse um planeta e um Deus tentando reger de forma muito imatura todos esses seres em mim. E por não saber muito bem reger a vida, causo desequilíbrio nesse meu mundo interior e consequentemente aqui fora, no planeta terra... Onde tudo existe e onde considero minha realidade.
Só sei que para tudo existe trabalho árduo, e o lugar onde se encontra esse velho ancião chamado Desapego é meu próximo destino, e reconheço a longa viagem até lá...