Para meu filho, quando lhe convier*
Tentarei entregar ao meu filho um mundo mais inteligente, mais aberto ao contraditório, mas não sem conhecimento que sustente afirmações.
Um mundo sem ignorância ou posturas idiotas e idiotizantes.
Quero que ele viva em um mundo de leituras fartas de todas as vertentes, desde que coerentes e sólidas, pois eis aí algo que ninguém pode ousar preterir: a solidez.
De fluído basta o ar e a água, mas estes são reais. Sentimos ao respirar e no beijo do mar.
Desejo que ele olhe para as estrelas e as constelações, que aponte planetas e saiba que tudo está lá, mesmo que há alguns anos-luz de distância. Que todas as belezas celestes são feitas dos mesmos elementos que nós, pois como disse Carl Sagan, somos “poeira de estrelas mortas”.
Farei o que puder para dar ao meu filho as lições da vida que eu aprendi e esclarecerei a ele que ainda há muito por aprender, pela minha parte e pela dele e que juntos seguiremos na estrada da humildade diante do horizonte inalcançável do conhecimento, pois esta é a chave da sabedoria.
Tentarei entregar ao meu filho um mundo de compaixão e empatia, as maiores lições da cristandade, mesmo não sendo eu um cristão, pois é isto que nos define como humanos acima de qualquer crença.
Faço votos para que meu filho seja feliz como lhe convier, desde que não faça sofrer a ser algum, muito menos a ele mesmo e que ele seja sábio para ter em si a melhor companhia acima de qualquer outra coisa neste mundo.
Desejo que ele viva muito e viva bem, no tempo e na forma que ele desejar, pois a liberdade de pensamento é a única que jamais poderá ser cooptada por ninguém, como disse Pepe Mujica.
Deixo tudo isto registrado caso eu me esqueça, caso fique velho e retrógrado, para lembrar-me das coisas em que acredito mais profundamente neste momento em que estou plenamente consciente daquilo que sou.
A vida é só uma, meu filho. Seja, sobretudo, feliz.
Jefferson Farias
*Publicado originalmente em https://ocronistainutil.wordpress.com/2020/03/16/para-joao-arthur-quando-lhe-convier/