O COMPLEXO RELACIONAMENTO HUMANO

No interior da compulsória evolução a que estamos submetidos, podemos estabelecer uma divisão, para examinarmos, de uma forma bem sintética, as conveniências a serem adotadas, para alcançarmos o melhor entrosamento possível, no relacionamento com as pessoas, dentro do complexo sistema social onde estamos incluídos.

A primeira fase da nossa existência está na nossa infância, e o seu habitat é a família no primeiro grau, e a seguir, eventualmente, a creche e o jardim da infância, onde começa o aprendizado espontâneo do relacionamento social, sem a interferência da astúcia, da malícia e das artimanhas peculiares do ser humano.

A segunda fase, a adolescência, se concentra na vida escolar, desde o fundamental até o superior, onde o relacionamento social se restringe principalmente aos estudos, e onde não há, ainda, os maiores conflitos de interesses e conveniências, pois nessa etapa quase não existe a severa concorrência de interesses, e ao contrário, os alunos se solidarizam em grupos de estudos, visando obter boas notas nas provas. A infância e a adolescência, constituem o melhor período da nossa existência, exatamente pela ausência dos conflitos mais agudos, que foram mencionados. Nessas etapas, as qualidades estão sendo desenvolvidas, e ainda não estão formatadas, mas, uma observação mais profunda, permite avaliar as inclinações que já estão no “forno”, se evidenciando paulatinamente.

A terceira fase, a fase adulta, é a mais complexa, justamente porque nessa fase predomina, com toda a intensidade, os interesses e as conveniências individuais, cujas bases são muito amplas, envolvendo cobiça, orgulho, inveja, egoísmo, hipocrisia, vaidade, antipatia, ódio, enfim, todas as qualidades negativas, que são, no ser humano, mais poderosas do que as qualidades positivas, como fraternidade, bondade, solidariedade, amizade, compaixão, misericórdia, compreensão, perdão, etc., todas elas sintetizadas no amor fraterno. Em ambas as qualidades, incidem dois fatores que atraem ou retraem as pessoas no inter-relacionamento, que são a afinidade ou a incompatibilidade entre elas, produzindo a empatia que produz a simpatia ou a antipatia, que, respectivamente, aproximam ou afastam as pessoas entre si. Nesta fase, instala-se, em todas as pessoas, a astúcia, que cuida com muito zelo dos interesses e conveniências individuais.

A quarta fase é a chamada terceira idade, a velhice propriamente dita, onde estão acumuladas as experiências das fases anteriores, consolidando as convicções, as quais não devem ser nunca definitivas ou imutáveis, porque a evolução continua até o último alento da lucidez. Na contramão, existem as pessoas que imobilizam as suas convicções, e as convertem em imutáveis, e sobre isso nada se pode fazer. Nessa etapa, porém, normalmente, o ser humano já se encontra definido quanto ao seu caráter e as circunstâncias de um modo geral, com remotas possibilidades de alterações. A definição de joio e trigo está concluída, e sob este aspecto não mais ocorrerão mudanças radicais. Alia jacta est.

No decorrer de toda essa jornada, para uma melhor acomodação às nossas circunstâncias, pode ser mais conveniente praticar os ensinamentos do provérbio árabe:

Há quatro tipos de homens:

O que não sabe, e não sabe que não sabe.

É um tolo. Evite-o.

O que não sabe, e sabe que não sabe.

É um simplório. Ensine-o.

O que sabe, e não sabe que sabe.

É um adormecido. Desperte-o.

O que sabe, e sabe que sabe.

É um sábio. Siga-o.

A prática do provérbio árabe no cotidiano, deve ser exercida com habilidade, de forma a não exibi-lo ostensivamente, para não ferir susceptibilidades, especialmente no trato com aquelas pessoas classificadas no primeiro segmento, e mais especialmente ainda, em se tratando de parentes ou pessoas com as quais temos um relacionamento forçado, do qual não podemos nos subtrair, e evitá-las, conforme ensina o provérbio. A transmissão dos ensinamentos deve ser feita de forma sutil e camuflada, embutida nas conversas ou situações de quaisquer naturezas, bem como, e principalmente, nas próprias ações e atitudes, que servirão como exemplos, mais ou menos na linha do sujeito que pede desculpas pelo erro do outro. A preocupação deve se concentrar em agirmos de forma correta e com bom senso, e não na censura e repreensão do procedimento alheio, provocando conflitos que poderão conduzir a inimizades irreversíveis, e uma convivência que se torna desagradável, e em estado permanente. Não nos esqueçamos, que o óbvio pode produzir uma equação facilmente compreendida por você, mas extremamente complicada e incompreensível para o outro. E vice-versa. Afinal, o óbvio está arraigado em todos nós, mas paradoxalmente, os óbvios se contrapõem, e o óbvio para uns pode ser o absurdo para outros, como por exemplo, a terra redonda é um absurdo para os terraplanistas... e a terra plana é um absurdo para a racionalidade e para a ciência. E isso tudo, sem falarmos das crenças e superstições, o território das ilusões, onde bilhões de pessoas estão confinadas, como rebanhos nos currais dos frigoríficos...

Devemos levar em conta o fator fundamental, que estabelece a diferenciação entre as pessoas, e que está definido imutavelmente na individualidade de cada ser humano, e mesmo que, por exemplo, duas pessoas façam o mesmo percurso na sua formação acadêmica, profissional, religiosa, ou quaisquer outras concebidas pela imaginação, nunca elas serão iguais. Aliás, no Universo inteiro, não existe, onde quer que se examine, duas coisas exatamente iguais. Tudo é absolutamente UNO, assim como a capacidade de aprender também é individual, o que nos esclarece que ninguém ensina nada a ninguém: são as pessoas que apreendem ou não os conhecimentos. Conclusão: podemos fazer uso do provérbio árabe, porém, conscientes de que as tarefas de ensinar e de despertar, dependem dos outros apreenderem ou acordarem, enquanto evitar os tolos e seguir os sábios, depende de nós.

Edgar Alexandroni
Enviado por Edgar Alexandroni em 15/03/2020
Código do texto: T6888418
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