Amigos imaginários
Amigos no conhecimento, rebelais contra o Estado e suas ovelhas! Deixemos a algazarra dos pedidos de direitos iguais para os escravos; chamam isso de "liberdade". A democracia deveria aparecer, a nós, como um forma de corrupção. Imagine um organismo que deixasse a soberania das funções mais nobre ao serviço das mais baixas: desagregação, é isso que está acontecendo. A vontade do povo nos levará à ruína. Deixemos, também, a anarquia para os escrementos da sociedade, os criminosos. Tudo é um mesmo e profundo problema, tudo um mesmo rebanho - senhor e escravo, dois lados de uma mesma moeda. Tudo que querem é conservar, manter o tipo de ser humano que consideram de maior valor. Não percamos o nosso tempo tentando fazê-los pensar, não são ouvidos para nossas verdades. Falemos entre semelhantes; ainda existem leões risonhos ocultos no meio do rebanho, estão apenas perdidos, confusos, com medo, principalmente da miséria, do sofrimento, do julgamento. Eles têm a sabedoria, mas falta-lhes coragem para vivê-la. Digo-lhes de coração: não temam o desprezo, o isolamento, a solidão, a vergonha, sejam corajosos. Querem continuar fazendo parte dessa loucura das nações que usam suas engrenagens orgânicas apenas para enriquecerem até a morte?
Afastemo-nos; ainda há lugares isolados longe da barulheira dos corvos. Enquanto lutam por direitos iguais, bem-estar, nós subimos montanhas. Deixemos a planície para nos elevarmos aos céus, ao lado das águias e das nuvens, que é a nossa morada. Solidão - eis a nossa musa.
Enquanto buscam liberdade da vida, nós buscamos a singularidade da vida. Sejamos a árvore e os frutos do amanhã, a promessa de futuro da vida. Há tantas auroras ainda por brilhar! Tantos novos modos de sentir e pensar!
Não vos deixais enganar pensando que necessitam estar em contato com os outros para se tornarem frutos do amanhã, ou que só por meio de obras é que serão efetivos. É disso que nos livramos; encontramos a vida encoberta pela vontade de elogios e censuras, por trás do "Eu" - que importa nós! Somos a economia espiritual deste tempo, pertencemos ao futuro. O futuro não é algo que virá, está aqui entre nós, misturado em meio ao passado presentificado na massa amorfa do rebanho - o futuro somos nós. Somos necessários, inevitáveis.