A escuridão dos dias por vir
A viagem já se tornara rotina, por mais que não gostasse desse fenômeno. Daquelas janelas, nas poltronas de número 29, ou por azar nas de número 25, já refletira muito, sonhara demasiadamente, esperançou profundamente e mergulhou em si. Planos, metas, ações, frustrações, vitórias, energias, escritas e sons, de tudo um pouco já criara.
Agora, no meio do tempo disposto, chegando cada vez mais perto do fim, luta contra si, olhando um céu formado por luzes, que cortam a escuridão. Da janela avista as matas, que profundamente guardam segredos que por vezes quis descobrir. Agora, os segredos internos o perseguem com mais demasia.
Dezembro próximo, 18, o que esperar dele? Que suspiros serão dados? Que caminhos serão trilhados?
Amizades, colegagens, irmandades, construídas num trânsito de oito horas que com insistência se fizeram ao longo de ciclos de 200 dias. A dor da separação é pesada. A tormenta do vazio é pior ainda. A falta de perspectivas, de caminhos concretos, palpáveis, firmes, deixava os dias mais tensos e frios.
O vazio da surpresa do futuro imprevisível. A esperança e desejo de que soluções se constituão, que a força de sair do lugar apareça e perspectivas se desenhem.
A história somos nós e nós a fazemos. Que peso, que responsabilidade. É o ônus da independência de si, ou da busca dela, já que sempre estamos presos a algo, externo, ou internamente na própria consciência.
As viagens não são mais as mesmas. O fim consciente atormenta. Âncoras precisam ser construídas. Lugares desbravados. E dentro de si há uma escuridão carente de uma luz criativa, que aflore potências carregadas xe vitalidade.
Da janela a escuridão, da crosta corporal arrepios, no interior a tensão. Pulsa, queima, devastação.
O céu não é aqui?