Memórias de um esquecido
Já tentei esquecer coisas de que me lembro constantemente e procurei lembrar daquilo que de fato nem sequer sei se um dia ocorreu.
Há fatos que marcam a vida inteira – mudam mentalidades –, porém outros são banalidades facilmente esquecidas na correria do cotidiano.
O mais engraçado de tudo é que lembranças de acontecimentos importantes para mim, talvez os outros envolvidos já nem saibam que um dia isso venha a ter ocorrido.
A memória é seletiva! É amiga! É traiçoeira! É parcial! É interessante! É confusa! É aquilo que define cada ser humano! E mesmo sendo tão controversa, não deixa de ser uma fonte de pesquisas importantes para os estudos históricos.
As lembranças são tragicamente encantadoras. Trabalhá-las, estudá-las e compreendê-las pode ser algo extraordinariamente perigoso, pois elas são território sagrado. Para muitos, suas memórias são quase que intocáveis, verdadeiras preciosidades.
Esse tipo de abstração torna o ser humano incrivelmente único. A capacidade de poder revisitar partes do passado que de alguma forma geraram algum impacto na vida é algo realmente admirável.
Em minha concepção de mundo creio que as doenças mais terríveis as quais assolam a humanidade são justamente aquelas que prejudicam a memória. Isso porque ao destruírem as lembranças do indivíduo o privam do único bem realmente precioso que ele possui, ou seja, apagam aquilo que cada um é em sua essência.
Passar pela dor realmente não é algo bom, mas não sentir nada, não se lembrar de nada é bem pior. A dor, a tristeza e o sofrimento servem para nos recordar o valor de momentos simples e, ao mesmo tempo, alegres, marcantes, impactantes.
No final das contas não somos o que possuímos ou construímos materialmente, somos apenas lembranças – sonhos –, aquilo que de fato nenhum ser humano pode tirar da gente ou prejudicar.
E mais do que isso, quando morremos, nesta vida terrestre, somos apenas aquilo que os outros lembram da gente, ao nos tornarmos totalmente esquecidos na memória humana não somos mais nada por aqui.