A flecha que tava presa no meu peito
Empurrei mais ainda essa flecha que insiste em ficar presa em meu peito, dessa vez foi mais forte e profundo. Dessa vez eu acho que senti a dor que não tinha sentido antes, foram dias e mais dias sem ela machucar ou me se remexer em meu corpo. Foram dias que vi um sinal de esperança que ela poderia sair logo logo de mim e eu conseguir respirar. Mas, ela insiste em continuar no meu peito, é como uma força que ora tenho poder ora não.
Quando ela foi atirada em meu peito, lá por volta do final de outubro pra novembro não fazia tanta dor. Ao longo do tempo, ela foi se aprofundando se aconchegando devagarinho, mas o mais curioso é que quem empurrava essa flecha era eu. Eu era e sou o culpado de empurrar, diariamente, essa flecha mais fundo e mais fundo. E hoje foi esse dia que empurrei e ela me rasgou como nunca, pensei que estava bem, mas menti pra mim mesmo. Hoje eu vi outubro em fevereiro, vi meu sangue se escorrer por inteiro, seco, vazio, despido de cor mas com sentimento de dor. Hoje vi o mar salgado sair de mim, vi ele tocar meus lábios depois minha lingua e o engoli por inteiro. Hoje foi quando a flecha cutucou e cutuou e cutuou e cavou mais fundo o que eu passei dias sem mexer. O que passei dias sem direcionar ângulos que saiam de meu segundo órgão mais alto. Hoje foi um dia que não era pra ter sido.
Espero conseguir tirar essa flecha, aos poucos, de mim. Eu não posso mais viver com ela, ela, involutariamente, me persegue. Ou sou eu quem persigo ela? Talvez, um encontro dos astros possam ter sua parcela de culpa, mas hoje e, como em outros tempos, a culpa foi minha. Não a flecha, não dos astros - e quem dera fosse -, mas minha e só eu poderei conseguir tirar essa flecha, devagarinho, sem causar mais estragos a mim, meu peito, meu coração e meu ser que tanto necessita chegar a o topo da montanha mais alta que existe, olhar o horizonte e enxergar, para além dele, um eu sem dor, sem medo, sem angustia, sem fantasmas e, principalmente, sem a flecha que tanto magoa.