Veredito da paixão

Eis que nos bancos dos réus encontra-se presente um dos males do mundo. A insígnia da loucura é, pois, julgada e sentenciada por demandar demais aquilo que os dotados de razão carecem: afeto! Nos autos do processo descrevem-se as qualidades patogênicas desse produto humanos presente nos degenerados. Petição de prisão, sabe-se lá para onde: haveria um asilo para os apaixonados? Poderíamos institucionalizar os sujeitos que apresentam tal caráter? Bem, os cartesianos que se imunizaram das benesses do vínculo por excelência não negam a possibilidade, penso eu. A sublimação tomou a defesa a favor dos produtos dos enamorados, mas em um mundo cujos objetos são fetichizados, a sentença é quase certa: denega-se a paixão, pois ela nos torna irracionais; além de nos colocar em um estado de embriaguez que denuncia uma carência deplorável. Os promotores afirmam precisamente que há muita atenção demandada e vivemos em um mundo rodeado de informações, objetos, corpos, músculos e ofertas para se deixar capturar pela primazia do olhar e da voz do sujeito apaixonante. Declarou-se , portanto, a invalidez e o caráter de transtorno da paixão. Será que um dia inventarão uma pílula que a controle? Ou algumas doses de ansiolíticos resolvem seu estado de histeria intensificada? Aguardamos o desenrolar dessa história

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 27/02/2020
Código do texto: T6875875
Classificação de conteúdo: seguro