Minha Caneta, meu Coração Assombrado

… noites longas e não havia a menor possibilidade de se levantar pra fazer xixi, com tanto medo.

Existia sempre alguém ou alguma coisa esperando por mim... barulhos que apenas eu escutava, uivos de lobisomens vindos do quintal da casa de minha avó... fantasmas no meu quarto, pairando pelo ar, demônios no armário, um cabideiro que de madrugada se transformava em uma bruxa... incontáveis noites de calor debaixo do cobertor que eu pensava que podia me proteger de qualquer coisa. Gritos... berros... gritos e mais gritos a noite… Meus pais me salvando, meus pais sempre por perto.

De repente tudo isso deixou de me dar medo. E passou a me dar vontade de rir... e então eu passei a contar histórias pros meus amigos do condomínio e da escola... e em seguida a desenhar, a fazer quadrinhos, a escrever... inventar… a questionar a literatura quadrada que me era imposta na escola. Eu passei a... BRINCAR com o meu próprio pavor e até que ele – até hoje – se tornou minha maior diversão. O medo se tornou hobby e em 2011 as pessoas fizeram fila pedindo para autografar o meu medo. Pois percebi que fantasmas não existem e não me tocam, e que monstros são humanos. E que bruxas são apenas… Algumas mulheres que amei.