Devaneios a tarde.
Você já acordou e sentiu que seu humor poderia ser descrito como uma cor?
Hoje eu sou azul cobalto.
Na verdade, venho me sentindo cobalto por alguns dias...
Pra ser honesta, não sei bem o que isso significa, mas me sinto azul.
Básico, comum, usado por todos (no sentido da cor) por tanto tempo, que as pessoas nem se esforçam a/pra pensar sobre o porquê daquela cor ter sido a escolhida. Ela só está ali por tanto tempo que já estamos acostumados. Como se não tivessem mais cores a não ser aquela.
Hoje decidi vir ao parque.
Sozinha.
Eu sempre venho ao parque sozinha quando tenho algo pra resolver..
Como fiz quando decidi morar sozinha.
Está tão ensolarado quanto daquela vez, talvez mais...
Me distraio com um homem andando perto demais de mim.
Reparo no meu redor.
Pessoas com seus cachorros, casais, amigos, skatistas, solitários..
Todo tipo de gente.
Igual a quando eu te conheci.
A mesma manta na grama.
A mesma mochila de travesseiro.
A mesma calmaria ao redor.
Mas hoje eu não preciso impressionar ninguém.
Sou só uma mulher com aparência adolescente sentada na grama, comendo bolo de chocolate, embaixo de uma árvore e com os fones no ouvido.
Sozinha.
Escondida.
Do meu esconderijo, vejo as pessoas. Observo. E acho que sou observada também.
O que será que as pessoas pensam ao me ver escrever no meu caderninho? O que acham ao ver o jeito que levanto a cabeça e paro pra sentir a brisa que passa e balança meu cabelo solto?
Acho que o mesmo que eu.
Tentam imaginar o que se passa na minha mente, mas não focam nisso por mais que alguns segundos, antes de olhar pro céu, pra copa das árvores, pros jovens fazendo manobras, pra crianças sorrindo e brincando na grama.
O pensamento voa, não foca, não para.
A cada cinco minutos chega alguém, uma família, procurando um canto com grama e sombra, pra fazer o mesmo que eu: apreciar o dia bonito de fim de verão, um dos poucos em que realmente fez sol, não ficar em casa trancados.. Tomar um sol e talvez descansar um pouco. E pensar. Ou não pensar.
Algumas pessoas sentam nos degraus de pedra, tomando cuidado pra sentarem respeitosamente distantes uns dos outros.
Alguns comem, outros deitam e cochilam; outros olham pro nada e pra tudo.
No que eles pensam? Nos problemas? No calor? Nas nuvens escuras que estão aparecendo no horizonte?
O vento sopra e algumas folhas pequenas caem no meu cabelo.
Me faz sentir como uma personagem de um livro.
Qual a minha história? Qual a minha importância? Sou apenas uma coadjuvante? Uma figurante, sem propósito maior a não ser preencher algumas páginas e linhas?
Me sinto sozinha, mas não tanto.
Se eu estivesse com alguém, aqui, agora, talvez estivesse tentando abordar algum assunto, me forçando a sorrir e ser ou atender alguma expectativa velada da/o meu/minha acompanhante.
Hoje a solidão é bem-vinda.
Não hoje. Aqui.
Aqui não preciso fingir.
Ouvi Bewitching Pool, de Spell and Curses enquanto escrevi isso. Em repeat.