Temos de nos conhecer
“Eu me procurei em todos os lugares e só me encontrei em mim mesmo”
John Lennon
Se há algo que temos de fazer é conhecer a nós mesmos, dando espaço para ouvir a voz interior que existe em todos nós. Infelizmente, é comum que nos acostumemos a ouvir e acatar as outras pessoas. Elas vão dizendo que somos algo e, muitas vezes, sem parar para pensar, aceitamos o que dizem de nós. E vamos permitindo que nos conduzam, não nos dando a chance de descobrir quem realmente somos. Somente quando praticamos o autoconhecimento é que podemos saber o que nos serve, realiza, faz-nos felizes e quais aspectos nas nossas pessoas precisam ser melhorados.
Também nos habituamos à ideia de que precisamos ser conduzidos como gado. Devido a isso, muitas pessoas, quando experimentam o sofrimento em suas vidas, voltam-se para líderes religiosos ou gurus que lhes dirão o que fazer de suas vidas. Conhecer a si mesmo dá trabalho. Exige que você se questione, viva a vida, arrisque-se. Assim, acabamos por fazer o mais fácil, que é aceitar que somos isso ou aquilo em vez de nos questionar se tal pessoa está com a razão. Então, chegamos a nos comportar de acordo com o que dizem de nós em vez de tentar nos conhecer melhor. Quantos filhos, inconscientemente, aceitam quando os pais dizem que eles são “burros”, “desajeitados” e não fazem nada direito, porque entenderam que eles estão certos? Acontece que toda pessoa precisa fazer algo por si mesma, que é escrever sua própria história. Porém, nem todos entendem isso, inclusive alguns pais que se acham no direito de obrigar os filhos a seguir uma carreira ou desistir de algo, determinando: “O certo é você fazer isso, isso que é futuro para você.” Entretanto, ninguém é conhecedor da verdade. Como uma pessoa pode ser tão conhecedora da verdade a ponto de achar que sabe o que será o futuro da pessoa?
Nenhuma pessoa, religião ou filosofia pode nos dizer quem somos, o que podemos ou não fazer. Isso é um caminho solitário, que só nós podemos trilhar. E segui-lo pode ser realmente assustador. E não somos educados para acreditar no nosso discernimento, mas para crer que temos de ser conduzidos, precisamos que nos digam o que fazer. Assim, muitos, em vez de tentar saber por si mesmos que devem fazer, quais procedimentos devem tomar, preferem transferir essa responsabilidade para outra pessoa ou então se refugiar em alguma religião, filosofia, doutrina ou até outra pessoa.
Não é incomum que nos sintamos invadidos por uma sensação de vazio que, se analisarmos bem, deve-se a alguma razão emocional. Mas é mais frequente que procuremos preencher vazios através de compras, comida, prazeres ou outros comportamentos nada saudáveis. Quantos jovens, neste momento, não estão fazendo coisas como se automutilar ou adotar comportamentos perigosos por não conseguir entender o que está lhes acontecendo? Isso leva vários a se tornar presas fáceis de jogos como Baleia Azul ou da boneca Momo.
Deixar que outra pessoa, religião ou doutrina nos conduza ou fazer coisas como nos drogarmos ou comprarmos em demasia para não nos sentirmos vazios não nos ajudará. No fim, são como analgésicos. Aliviam os sintomas de uma doença, não a curam. O mesmo podemos dizer sobre as drogas. Elas trazem uma euforia e um bem-estar momentâneos, só que não resolvem os problemas que podemos estar enfrentando. E, quanto mais nos refugiamos em algo, mais vamos perdendo o controle da nossa própria vida.
Temos de parar para pensar, encarar nossos rostos num espelho, aceitar os choques de realidade trazidos pela vida e procurar nos encontrar com nós mesmos, os nossos sentimentos e necessidades mais profundos. Apenas isso irá nos ajudar inclusive a nos conhecer melhor e aprender a tomar decisões que nos ajudarão em nosso futuro.
Ninguém mais pode decidir por nós ou querer saber o que nos convém. Por que os pais teriam o direito de forçar um filho a ser médico se ele tem horror à ideia de cortar a carne de outros seres vivos? Caso os pais o forcem e ele, talvez por causa da pressão, acabe por estudar Medicina, irá ser uma pessoa infeliz e frustrada. Da mesma forma, se ele diz que não gosta do curso e ainda assim os pais o obrigam a estudar, fazendo chantagem emocional, manipulando-o para que ele se sinta um filho ingrato que não vê o que os pais fazem por ele e pensando apenas nele, algo está errado. E não é com o filho. Mas com os pais. Eles deveriam ver que a vida é apenas da pessoa.
Querer decidir a vida dos outros assim não é amor, mas puro egoísmo e irão arruinar a vida de uma pessoa por obriga-la a fazer algo de que não gosta. Será um péssimo profissional e alguém que não verá na profissão uma forma de se realizar como ser humano, mas como um fardo. Medicina é um curso bonito, só que não podemos obrigar outra pessoa a cursá-lo dizendo: “Faça, é um curso bom.” Quem deve achar ou não o curso bom é a pessoa. Não temos o direito de decidir ou pensar pelos outros. E este é um erro que muitos pais cometem.
A pessoa precisa se conhecer para saber tomar suas decisões. Conhecendo-se, você irá saber o que fazer da sua vida. E também verá que é o maior responsável por sua própria felicidade. Só você pode se fazer feliz, entender o que lhe dá motivação para seguir adiante na sua vida.
Portanto, tratemos de iniciar a jornada rumo a nós mesmos. É uma jornada solitária e ninguém poderá fazê-la por nós.