Os Três.
Duas e sete da manhã.
Eu sentada na cama, fones no ouvido, a garganta arranhada e seca. A garrafa de água vazia do meu lado.
Bateria a 20%, mas com preguiça o suficiente pra esticar o braço e puxar o fio do carregador.
Mais uma noite.
Tem minutos que penso Nele, no eterno. Imagino passeios noturnos, andando no bairro arborizado dele, silencioso, vazio. A mão quente dele segura a minha, as chaves tilintam no bolso dele, eu tropeço em algo.
Ele solta a fumaça do cigarro barato dele, longe de mim, enquanto ando do lado da parede, numa calçada larga.
Andamos em silêncio, os passos de ambos embalando aquele passeio, e sabemos que não precisamos falar nada.
As vezes ele aperta minha mão, numa piadinha boba, só pra me fazer bufar e dar algumas risadinhas baixas, enquanto tento apreciar a lua e a brisa nas árvores e no cabelo dele. Eu adoro aquele cabelo.
Ainda.
Tem minutos que penso no ‘lobo’, as mãos grandes demais pras minhas, ele anda desconfiado, sempre prestando atenção na visão periférica, os instintos dele falam mais alto.
O cheiro da loção de barba dele vem pra mim, conforme uma brisa sopra, e ele sabe que temos que ir mais rápido, porque eu ficarei doente..
Ele sempre mantém a respiração cadenciada, robotizada, e isso me hipnotiza e eu me sinto compelida a respirar da mesma maneira, mesmo sabendo que preciso dar dois passos pra acompanhar um dos dele, e logo ficarei sem ar. Ele sempre percebia e andava mais devagar, pra me ajudar, e sempre tentava colocar o corpo dele contra o vento, pra me proteger.
Mas ultimamente, eu penso no Ca.
Eu não sei porquê, mas achava graça na maneira que ele tragava o cigarro. Sempre fazia um som tipo ‘pof’, e eu achava diferente..
Nunca gostei de cigarro, mas podemos ver que fiz duas concessões na vida.
Gostava do jeito q ele era silencioso, que andava e não precisava falar, mas era sensível às minhas mudanças de humor, ele sempre me perguntava e insistia, até resolvermos.
Ele andava sempre tranquilamente, solto, leve, sem pressa.
Me abraçava e me dava dezenas de beijos, andávamos na mesma passada, ritmados.
Eu sempre ria de algo. Sempre.
Depois de quase três anos, o Lobo voltou a falar comigo.
Ele me adicionou inesperadamente.
Não sei bem qual o propósito dele, mas depois de ambos pedirmos desculpas pelo que falamos e fizemos no passado, acho que talvez possamos ser colegas.. Mas não que eu espere isso. Na verdade, eu não quero que ele volte.
Ah, a quem estou tentando enganar?! Eu quero sim.
Já o conheço, falhas e defeitos, lado bom e ruim. Conheço a rotina, o jeito de agir, de pensar.
Um dos três homens que jamais esquecerei.
O primeiro, seguindo a linha do tempo, mas o segundo em termos de como me afetou.
Ele está mais tatuado, um pouco mais maduro, mais contido. Pelo menos foi o que percebi nessas duas semanas de conversas esporádicas.
Não me deu nenhum sinal, eu estou tentando não dar nenhum sinal também, pra ver quem ganhará esse jogo ridículo.
Eu sei que um hora ou outra, meus exes sempre voltam. Mesmo sem segundas chances.
Mas esses três, ah, esses três...
Ouvi I Revel In You, Café Speed, Business Solutions, Pool Line, de JORDANN, enquanto escrevi isso.