Eu

Quando nascemos tomamo-nos como objeto de desejo. Em uma vivência autoerótica vamos fazendo o contorno de uma sede narcísica. A medida que desenvolvemos nossas pulsões , cuja finalidade visa a satisfação - nunca total - , endereçamo-as para um outro lugar, um objeto de amor que vem a substituir a alucinação primordial de prazer. Curiosamente há um eu em formação neste percurso de investimento para fora. O outro demarca cada limite e bordeja a forma a forma de um corpo. Logo, o corpo é esse conjunto de traços, mas que traços são esses especificamente? São o produto dos abandonos pulsionais. Objetos de amor, enquanto substitutos, caem, assumem a posição de resto, tal como o eu, que também se coloca como o objeto para outrem, ocupa esse lugar de descarte. É, pois, na perda do objeto, acompanhada de um imperativo de desprazer decorrente da frustração do fracasso objetal que o Eu vai ganhando forma , preenchendo o contorno narcísico. E , arrisco dizer que, está instância vai no processo deformando a base constituída no ponto máximo em que o sujeito se toma como fonte de amor. O Eu é portanto resultado de fracasso, de abandono, de desinvestimento: é camada de pulsões retroagidas. O Eu é o resultado do engano com o outro.

Abraão Rodrigues
Enviado por Abraão Rodrigues em 20/02/2020
Reeditado em 27/02/2020
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