Na formação da estrutura familiar o que realmente importa é a conexão profunda com as pessoas, independentemente dos laços sanguíneos
Quem me conhece sabe que eu sou filha adotiva e com relação à isso sou muito bem resolvida. Fui criada por uma mulher que ficou viúva aos 40anos com três filhos saindo da adolescência, embora ela fosse uma mulher linda e ainda jovem para refazer a vida ao lado de um novo amor optou por doar o seu amor à uma criança, então passados os 5 primeiros anos de luto e sofrimento pela perda do marido ela me acolheu, na época da minha adoção era muito comum a chamada "adoção a moda brasileira " onde a mãe biológica doava a criança que era registrada ,sem burocracia alguma, como filha biológica pela família adotante . Fui criada por uma mãe que não poupou esforços para me tornar alguém de valor,pela idade avançada me criou com regras e princípios rígidos mas que hoje acredito tenham me ajudado muito. Ela era extremamente amorosa, mas tive oportunidade de ouvir ela dizendo" eu te amo" raríssimas vezes, mas sabia como ninguém me fazer eu me sentir amada nas suas ações e atitudes . Ela já tinha 3 filhos biológicos quando eu cheguei na sua vida e eu me tornei o bebê da minha mãe e assim fui até ela partir. Minha relação com meus irmãos biológicos foi a pior possível, fui muito judiada pelos mesmos, em especial psicologicamente, tinham muito ciúmes do amor incondicional que a minha mãe teve por mim, me tratavam como
com indiferença e desprezo, me torturavam com palavras agressivas dizendo que eu era inferior por não ser filha biológica. O grande desafio da minha vida foi não deixar que a maneira como eles me tratavam interferisse na minha essência me tornando alguém amarga,triste ou algo assim. Minha mãe para amenizar o problema massageava meu coração e dizia que eu não precisava revidar o mal que eles me faziam porque eu não era igual a eles:adultos egoístas e mesquinhos. E sempre que eu passava por algum tipo de situação dolorosa em relação a eles minha mãe apaziguava me fazendo entender que eu podia sim amar a eles mesmo que os mesmos fossem hostis e cruéis, porque era a minha essência,diferente deles que só pensavam em si mesmos . Desde muito cedo ela conseguiu despertar e trabalhar em mim tudo aquilo que eu era na minha essência , e talvez por isso é que meus irmãos adotivos me tratavam mal. A minha mãe entendia a minha sensibilidade exacerbada, sentia que eu nasci assim e nem mesmo as circunstâncias puderiam alterar isso,e com maestria e inteligência emocional ela me criou à altura da grandeza do meu coração e o dela. Ela dizia que eu era a parte doce dela, eu sabia que sem ela eu não teria sobrevivido à tantas coisas ruins que passei. O que realmente existia entre eu e ela transcende a questão dos laços sanguíneos, é pura conexão espiritual, nos colocamos uma na vida da outra por puro aprendizado e crescimento espiritual, a forma como nos amamos era mais bonita do que com seus próprios filhos biológicos. Alguns anos atrás reencontrei minha família biológica, essa é uma outra história, que em outra oportunidade eu trago por aqui, com eles igualmente houve uma conexão muito linda e profunda ,meu pai hj é meu melhor amigo, nossa relação flui tão lindamente que parece que nunca estivemos separados pelas circunstâncias da vida. Em resumo ,o elo que une e sustenta as relações familiares é o amor,amor mesmo que respeita as diferenças e particularidades,que entende a essência e a aceita do jeitinho que é.