Iceberg
Eu hoje tive um dia bom. Fiz algumas pinturas, autorretratos, sempre em busca de mim mesma, procurando me reconhecer nas faces que pinto. Hoje eu me vejo só na sala, à noite, e em minha solitude analiso minhas busca desenfreada por ocupações, pinturas, leituras, assistir vídeos, analisar fotos, ouvir música, a todo momento eu tenho que estar ocupada. A verdade é que estar sozinha comigo mesma e o nada é incômodo. Que pessoa eu me tornei que não aguento estar sozinha comigo em silêncio? Uma angústia se apossa e automaticamente busco ocupações, desenhos, frases, grupos. O consciente é só a ponta do iceberg. A profundeza se encontra no subconsciente. Meu consciente me aceita bem, me acha uma pessoa aprazível, agradável de se conviver. Mas as profundezas do inconsciente me suga como areia movediça, me lança na lama das dores marcadas em tempos passados. Por isso sorrio, por que tenho sede de viva, mas nos ombros carrego penoso fardo, que não consigo precisar de onde vem. Meus olhos são dúbios. Tem a tristeza de um remando ao entardecer e o brilho da esperança de quem sabe que a vida é a mais surpreendente trilha que nossos pés jamais sonharam pisar.